16 de abr. de 2007

Second Life

Enquanto isso, na internet:

"...sempre eu sou o idiota dualista q não sabe viver direito no mundo da fantasia e desfaz os sonhos da semana."

E no rádio do Cibié:
"...living is easy with eyes closed..."

11 de abr. de 2007

Cartas sobre a adolescência

Sempre achei difícil - antes, durante ou agora, sofrivelmente depois dela - sintetizar a adolescência. Resumir em palavras os entraves com identidade, com caminhos, vontades, novidades e mudanças (ah, as mudanças...). As mais rebuscadas não serviam, porque deixavam tudo ainda mais complicado. E as simples não davam conta de tanta enormidade emaranhada de vida batendo taquicárdica.

Foi tropeçando nesse tempo, sempre marrento, teimoso e malcriado, que encontrei um pedaço de Neruda via Gustavo Ioschpe e Octavio Paz via meu irmão. Mudanças, identidade, rostos que não se reconhecem, estrangeiro em sua própria morada. Um tempo de suspensão numa existência que segue, em poucos e intensos anos, ondeando.

Os textos podem não iluminar ou tornar clarividente, mas é sempre reconfortante saber que, por mais que neguemos, algum adulto nos entende.

Depois, passado, “cambiamos y nunca más supimos quiénes éramos”.
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Adilia em férias, Lemp em férias. Novos canais, briefing, Sampaist, SPFW, editar canais, reunião, Sampaist, briefing, contratos, telefone, contas, SPFW, notas, novos canais.
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"(...) Es tarde, tarde. Y sigo. Sigo con un ejemplo
tras otro, sin saber cuál es la moraleja,
porque de tantas vidas que tuve estoy ausentey soy,
a la vez soy aquel hombre que fui."

Tal vez es éste el fin, la verdad misteriosa.

La vida, la continua sucesión de un vacío
que de día y de sombra llenaban esta copa
y el fulgor fue enterrado como un antiguo príncipe
en su propia mortaja de mineral enfermo,
hasta que tan tardíos ya somos, que no somos:
ser y no ser resultan ser la vida.

De lo que fui no tengo sino estas marcas crueles,
porque aquellos dolores confirman mi existencia."

No hay pura luz, de Pablo Neruda

10 de abr. de 2007

O próximo livro que vou comprar é...

"Como os Pingüins me Ajudaram a Entender Deus – Pensamentos pós-modernos sobre espiritualidade", de Donald Miller.

9 de abr. de 2007

20 de mar. de 2007

Crônica de um tempo amargo

Era novo
Somavam sete
Quando ele partiu
Era carnaval
Foi em busca
Baile de silêncio
Rostos nos bolsos

Reconstruído
Ele mostrou-se
Quanto novo
Vontade nos poros
Era amor
E voou
Era Natal
Fim
No começo de um ano velho

Ela veio
Outras formas
As coisas podiam mudar
Promessas
Foram erros
Em cama de acertos
Era Páscoa
Ressurreição do amargor

Hoje é medo
Tudo é perda
Fechei
Forjei
Invento

Tudo são datas
Em lápides
De corpos quentes
Desfaço-me
Perco
Estilhaço
A alma alheia
Esfrio
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Memórias do miolo da adolescência. Algumas saudades.

13 de mar. de 2007

Dos trocadilhos reais e infames

Queria ter promovido um encontro entre Condoleezza Rice e minha amiga Bean, pra ver se rolava um baião-de-dois, mas não foi possível. Culpa da Bushada.
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Que deponha as armas o concreto armado e nunca mais apareça!
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Ok, perdão.

I try to say goodbye and I choke

O domingo foi estranho, do avesso, e a foto do ensaio dos pés volta para o messenger.

Janto com minha priminha, aflita e querendo colo em seus primeiros passos longe de casa. Tudo tão novo, tão desconfortável, tão grande, barulhento. Fascínio latente. Chorosa, não bastasse todo o resto, pelo fim de namoro, com a esperança de que ele vai mudar e tudo vai dar certo.

Ele vai mudar e tudo vai dar certo, sim. Juntos, separados, todo mundo vai mudar. O que não pode falhar é o estar preparado para ver o “teu vulto que desaparece na extrema curva do caminho extremo”. Sorrir, sabendo que dessa vez você pode estar fazendo o que eu achava certo, o que eu sempre quis. Com outro. Outro tempo, outras peles, outras vozes. E parece que não cresci...

Continuo esperando o coração palpitar e as pernas sentirem como se tivessem pedalado 42 km; tremendo e parecendo não sustentar o corpo. Só fazem isso em horas impróprias, com corpos alheios.

Enquanto isso há muitos relatos da Europa e da América, de Garcia Márquez, para ler.

8 de mar. de 2007

Via código binário

Idealismo é uma coisa que a paixão derruba.

Segundo a Bovespa, ações em franca ascensão de preços.
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Voto Bush para presidente da CET e do Metrô.

5 de mar. de 2007

I was dreaming of the past…

"Lembra quando eu era sua bebida preferida?
E quando amarga, quase doce parecia
Se engordava, então tomava com adoçante
E se enjoava era só pôr aspirina.

A minha bula avisava ter cautela,
Que o consumo tinha fins religiosos
O abuso envenenava os sentidos
E o fabricante nada tinha a ver com isso.

Lembra quando eu era sua bebida preferida?
E quando aguada, mais um litro resolvia
Se embriagava, banho, cama o dia inteiro,
Náusea vinha, diluía na Sukita.

Eu sofro agora com a sua abstinência,
Sem teu desejo sou xarope de groselha
Em outras bocas eu não sei fazer efeito,
Meu conteúdo é derramado em pias frias."

Sua.

…And my heart was beating fast.

15 de fev. de 2007

Breve resumo do (meu) tempo

Nas duas últimas semanas eu fui ao estádio de futebol pela primeira vez para ver um jogo, comi canole na Moóca, fui à Festa do Ano Novo Chinês na Liberdade, comi na Bakery Itiriki - viva a aldeia global - e tomei a soda mais divertida do mundo.

Recebi um convite para a inauguração da exposição “Corpo Humano: Real e Fascinante”, com os corpos plastinados do Dr. Gunther von Hagens e a polêmica sobre a origem deles.

Ganhei um “braço-direito” no trabalho, a Mayara, leiga em internet e ganhando mais que eu (pra variar. Deus salve o RH e tudo mais no iG). Bom tê-la no time.

Assumi, depois de um e-mail oportuno, que a Tati é mesmo incrível, é A pessoa da arquitetura, e que vivemos nossas adolescências muito bem, com dores e delícias e excessos e faltas.

Aprendi sobre o “nouvelle manga”, experimentei pitaia, tive ciúmes, medo, raiva. Chorei. Mas ri muito. Cansei, dormi pouco, perdi a hora, andei menos de bicicleta, quase não desci do carro. Tomei chuva. Ah, chuva...E conversei sentado na sacada de casa, pra qual comprei cadeiras novas. Sou repetitivo e medroso. Engano bem.
Feliz.

Ansiedade para o meu aniversário e não trabalho no carnaval. "Não me diga mais quem é você..."

9 de fev. de 2007

Everyone needs a friend sometimes...

Porque ela me ensinou que amizade não é sufoco e silêncios podem ser cúmplices, não constrangedores. Porque ela é linda, lá e cá.

“Eu do interior, ela da casa com terracinho em cima da garagem, tudo junto em uma sala de aula de faculdade. Ali, ela "vinha sem muita conversa, sem muito explicar". A cara era séria, a fama de estudiosa, as turmas distintas. Mas na fina ironia da vida, fomos classificados na Seleção Natural e nos descobrimos amigos. O riso é fácil, a inteligência verídica. Mc Fountains é companheiGra de trabalho, de TCC, de comidinhas, de conversas das mais diversas, de loft, de vida. Sugiro a todos que consigam acompanhar o fantástico mundo Rock & Roll hype vintage hypercool da Fê que compartilhem, um instante que seja, da magnitude inebriante que é fazer parte disso tudo. Se ela abrir a porta, é claro. Porque quando ela deixar entrar, "old habits die hard"...
Te amo!
Beijo”

...to wake you up and sing the lullabies.

8 de fev. de 2007

Troca de roupa

Nunca fui um menino antenado em tendências eletrônicas, muito menos em internet (e quem falava em protagonismo?). Acho que a criação do Água de Tomate foi uma mistura de terapia com uma vontade disfarçada de inclusão social, de aparecer, me projetar. Quase cinco anos depois, ainda não sei bem; tampouco qual a “linha editorial” dele.

O que interessa é que ele sempre teve o mesmo layout, padrão do blogger (bem ao contrário do dono), que depois migrou pro blogspot e agora voltou pro blogger. Mas em 2007, o ano da sinceridade, ganhou roupa nova!

Essa cara é um “briefing” de Lucasof com arte do menino-prodígio da web 2.0, Caio Caprioli (ele afirma que não tem ligação alguma com empresa de ônibus). Obrigado, pequeno menino emo.

Quem gostou levanta a mão. Quem não, clica ali nos favoritos e muda de página.
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Pesquisa: o blog abriu certo para vocês ou desconfigurado?

7 de fev. de 2007

Ordinário

Sou um jornalista covarde e frustrado.
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Os amores da minha vida, quando não têm nomes em comum, fazem arquitetura.

28 de jan. de 2007

Nota do editor

Lucasof pede para avisar que, assume, sentiu um certo êxtase quando Patrícia Carta o chamou pelo seu nome de batismo depois de alguns pigarros, Maria Prata passou a mão em seus poucos cabelos e Daniela Falcão gentilmente dividiu um sanduíche da Payard com ele.
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Michell Zappa, do Trendwatching, recomendou Sampaist. Desculpa se somos trendy super ultra mega hype cool fashionistas de sucesso. Clique aqui para ler.

27 de jan. de 2007

Moda é um porre de legal

Lucasof está vivendo no filme O Diabo Veste Prada e volta logo mais, se sobreviver.
Fashionistas querem sua cabeça leiga.

www.spfw.blig.com.br

16 de jan. de 2007

A cratera

Da janela ainda se enxerga o guindaste, uma amarela libélula sem asas, agora amarrada a quatro fios. E durma com o barulho de dois helicópteros bem ao lado de sua casa.

Moro no clitóris do buraco do metrô.
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No caminho para o buraco (que não em Kandahar):

Ela no banco do motorista, ele, de kipa, descendo do carro:

- Mas eu nunca soube que você lia Playboy e era ligado nessas coisas, ué! Não posso achar estranho e ficar brava?

- Ah, claro, você queria que eu tivesse me apresentado e dito "oi, sou fulano, gostei de você e leio Playboy".
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Na borda do buraco:

- Vem com um helicóptero e puxa tudo lá de baixo!

- Mas um helicóptero assim só na Rússia...

- Moço, meu marido pode estar lá, você acha que isso é hora de brincadeira?

- Quem aqui está brincando, minha senhora? Em São Paulo e, acho eu, no Brasil inteiro não tem um helicóptero desse porte! Ele é Russo, mesmo. E estamos fazendo todo o possível. Melhor demorar do que desabar ainda mais.

15 de jan. de 2007

Little darling, it's been a long cold lonely winter...

Capotei em 2007 achando que as primeiras semanas estavam me dando todo o material para provar que os astros não são de nada.

Coisas atravancadas no trabalho, sufoco, e logo ali, do ladinho, "lips sweet surprise". Tudo invertido com relação ao ano passado. Seria a colheita do tanto de sementes que atirei terra afora. Depois de tanta água na boca, já era possível sentir um sabor agradável...

Sim, claro. Até hoje, que o trabalhou mostrou que aquilo tuda era apenas um teste de competência, amostra dos novos desafios. Tudo deslanchou, fluiu. E ainda pude passar um fim de semana como sempre sonhei, brincando de repórter. Hard news, para um menino de modismos num mundo que tanto gosta deles.

No mais, adivinhem. O espírito tranca rua - ou tranca rola, como diria a Quel - voltou a se apoderar do meu corpo. Foi um desmanchar rápido, dolorido. Mas eficaz, ao que tudo indica. Uma mordida de realidade para retomar as diretrizes. Ainda me resta a olhada de canto de olho.

Citando Bean, não tem mais glamour em Kansas. Para piorar, minha fé ficou abalada com a prisão da Bispa Sônia, e nem acompanhar o Kaká em seu jejum e vigília eu pude.

A semana para Aquário: Marte cria dúvidas no amor. Traz à tona recordações muito antigas que determinaram certa rigidez nos seus padrões de comportamento. Se não fugir das lembranças pode perceber de onde vem essa mania de brigar...

Volta, Plutão.

31 de dez. de 2006

Retrospectiva Água de Tomate 2006

Nos primeiros ventos do ano em que o mundo perdeu Robert Altman, Sivuca e James Brown e Saddan Hussein e Pinochet perderam o mundo, et altri, meu irmão se atirou no sagrado matrimônio. Depois, o Brasil mandou seu primeiro astronauta para plantar feijão no espaço e meus dias foram jogar xadrez tirando bombons sortidos de uma caixa.

Tempos de provar competência, consolidar amizades, pensar em caminhos, definir prioridades, assumir vontades. Foi rápido demais e rendeu como se fossem décadas...

Completo e imperfeito
Passar o ano sem um grande amor pode resultar em uma sobriedade imensa para outras coisas, fazer a vida fluir, focar no profissional, mas fica sempre uma sensação de que falta algo. Falta um cafuné com minhas ranhetices ao fim do dia. Ainda assim os meses foram um grande semear para 2007 e a "ausência assimilada ninguém rouba mais de mim".

Thanks for the joy that you've given me
No peneirar de pessoas que cruzaram meu caminho, foi gratificante ver que ficaram algumas muito queridas. Amigos de uma vida toda com votos renovados; não tão antigos, mas sinceros, me confortando nas horas chatas, me dando um tapa na cara quando precisei acordar, sempre lado a lado. Gente nova que vai chegando, seja via Sampaist, via bancada laranja ou pelas calçadas do mundo, e que promete muito.

Andando por entre os becos
Graduado, enfim! Quanto nervosismo ao esperar que anunciassem que meu (nosso, viva os quatro do Minhocão!) trabalho de conclusão de curso havia sido aprovado. Depois, a festa de formatura, lavar a alma, valsar com a mãe, abraçar os amigos - agora companheiros de profissão - e fazer juras impossíveis.

O microcosmo laranja
Como bem alertaram os astros, nos quais não acredito, mas que acreditam em mim, esse foi um ano profiGssional. De estagiário que era em agosto de 2005, passei a repórter, editor de um site, dois, três, de um futuro mega canal, ... Muita responsabilidade, tempo de pensar em rumos, descobrir, ler, estudar, levar a sério. E me encantar, porque não? É da bancada laranja do iG que termino essas linhas, às 15h39 do dia 31 de dezembro...

É de quem faz
Quantas realizações, alegrias, empenho, trabalho, surpresas e grandes pessoas me trouxe o Sampaist! Que o próximo ano seja ainda melhor e, de novo, obrigado ao Lemp Justus e os demais Ticos sangue-beat que fazem aquilo acontecer.

Buscapé
Conviver em família é acelerar numa rua de paralelepípedo com pneu careca. Resolve-se um problema, criam-se outros. A manutenção do amor, o apertar dos laços e desfazer os nós. Ainda assim, nada melhor. Ter braços nos quais aconchegar-se, aninhar-se, sentir-se pequeno e acolhido por um preço módico.

De Sideshow Bob para máquina dois
A vivida cabeleira étnica recebeu uma tosa radical e passou a maior parte do ano baixa, porém, repercutindo!


Palavra: Rápido
Música: O Último Pôr do Sol, do Lenine (dá-lhe Fe!), Any Road, do George Harrison (influência do Duda em minha vida; "If you don´t know where you´re going, any road can take you there")
Livro: Viver Para Contar, do Gabriel Garcia Marques (eita nome recorrente), O Nome da Morte, do Kléster Cavalcanti
Show: Chico Buarque
Restaurante: Pizza Hut, pelos momentos todos, e os demais onde rolaram as reuniões - sempre desculpas para comer e beber - do Sampaist
Viagem: Rio de Janeiro e Rosario
Filme: Pensando rápido, acho que Pequena Miss Sunshine e Shortbus
Banda nacional: Paralamas passaram bastante pelo som do Cibié
Álbum: Ok, me rendo. Lenine acústico, que tem toda uma história
Um lugar: minha casa, mais que nunca
(Re)Descobri: Um profissional, um pai, e O Lobo da Estepe, do Hermann Hesse
Uma loja: O Camiseiro, onde flui vida, história, o sorriso fácil e o afago difícil do Seu Elias e o outlet que vende King 55
Uma(s) frase(s): Mas você é burro?; Dá um tapa na cara!; Ticos, tiririririrpompompompom; Henfil Cointreal
O que mais valeu a pena: ter trocado a energia eólica pelo Minhocão. No mais, sustento a frase de 2005: tudo, sempre. Porque a alma, quero crer, não é pequena e "je ne regrette rien" (o Francês promete para 2007, em conluio com Mayara)
Um momento: Tantos! Casamento do Duda, TCC, formatura, festa do Sampaist...
Planos para 2007: consolidar a vida profissional, andar mais de bicicleta, continuar sem comer unha, fazer academia, um amor louco e arrebatador, a paz mundial e ganhar o concurso de miss...
O melhor cartão de Natal: De Lígia Helena para Lucasof (música de programa dominical ao fundo)
Uma frase: A vida te pega na esquina, por Verónica Aravena
O ano acaba assim: Cansado, realizado, ansioso, confuso e feliz. "Caminante, no hay camino, se hace camino al andar"

Um ótimo ano que vem para todos! Que 2007 lhes sorria, como diria Carlos, o inesquecível Chaparro.

14 de dez. de 2006

God only knows...

No dia em que o Sampaist saiu na Rolling Stone, graças ao Lemp, um visionário à sua maneira e seus nove blogueiros malucos e bem relacionados, eu fui promovido em meu emprego formal.

Parto para uma empreitada ainda maior, com frio na barriga e dúvidas sobre caminhos, e deixo, entre outras coisas, meu nome gravado como primeiro editor homem do iGirl (não interessa se mandei bem ou não, rs).

Mais do que feliz, estou agradecido. Ao Leandro, claro, pela idéia original da fundação do blog, convite, confiança e por estar envolvido em minha entrada no iG, Paula e suas incríveis dicas de "xadrez", uma natural born estrategista, e a uma mulher iluminada, a quem devo grande parte de minha formação profissional.

Sempre lembro de uma reunião de diretrizes e conduta na qual ela disse que "daqui só levaremos as lembranças que plantarmos ou colhermos. Talvez sobrem alguns amigos, mas o principal serão memórias. Por isso temos de tentar fazer o melhor, todo o tempo, como profissionais e como pessoas que se relacionam num ambiente de trabalho".

Fui para a casa pensando muito, refletindo sobre inúmeras coisas e tentando colocar ordem nos planos para o futuro e nas obrigações como estagiário. Era agosto de 2005.

No dia seguinte, sobre minha mesa, me esperava um exemplar do livro "La Chambre Claire", de Roland Barthes, com uma marcação na foto intitulada "Polaroid", de Daniel Boudinet.

Um cômodo escuro, um poltrona, uma janela coberta por uma cortina preta, translúcida e com uma pequena fresta sinalizando que havia luz do outro lado.

A imagem e o momento em que a vi viraram o marco do desatar de minha carreira. Podia não ver, não saber, ter medo do novo, mas atrás da cortina tinha um mundo me esperando.

E foi segurando nas mãos de Adília Belotti que, esperneando, ousei me atirar, como bem fazia nos melhores anos de descobertas da infância, encantado e barulhento.

"Alguns de nós acham que a felicidade é medida em pixels de alegria...engano. A felicidade só existe porque ela é sempre matizada pela percepção da fragilidade das coisas humanas..."

Todo o carinho, gratidão e admiração do mundo. É uma honra e um privilégio conviver com ela, e um grande desafio.

...what I'd be without you.

2 de dez. de 2006

Não ouçam, circulem

Nesses tempos de tentativas de desintoxicar da net quando não no trabalho - livros, bicicleta, cinema, amigos, casa, piscina, parque, balada - de vez em quando acabo me rendendo à fidelidade de minha TV, um satélite que só quer me amar.

Pois levando um beijo do gordo antes de dormir, na querida Rede Globo, foi que vi Tom Zé.

Alguém avisa que, ok, a canção pode estar morta, mas a Semana de 22 também está?

Não bastasse ouvir o Jair Deixe Que Pense Rodrigues falar - o que é que tem? - que foi o primeiro rapper, agora também devo sorrir com Tom Zé e seu braço de vitrola afirmando que foi o primeiro dijêi, usando um sampler artesanal?

Uhum. E Lucasof depois de velho foi o primeiro a assumir que deixa as unhas do pé crescerem para raspar no piso da cozinha da casa da mãe.

Eu tinha o controle em mãos, mas uma força cósmica me mantinha no canal 5.

Dentro de um carro, Tom Zé, Jô Soares e mais um me deixavam claustrofóbico. Joguei o lençol de lado, sentei na cama.

Colocaram o rádio, "tunado e hypado" com enormes caixas de som, no volume máximo. Aí começou um falatório sobre escola de Viena, atonalidade, dodecafonismo, muitos aparelhos ligados ao mesmo tempo, estar nos braços de Dionísio numa macumba grega...

Abaixaram o volume, saíram do carro em êxtase criativo. Pude voltar a respirar em casa.

Essa gente nunca teve férias no interior nas décadas de 1980/90, com playboys estacionando seus carros com sons no máximo ao redor de praças, cada um com seu estilo musical, naquele caos perturbador?

Assumo, estou na fase do incômodo. Logo eu assimilo e boto os tímpanos para batucarem num barato decibélico e suspiro: gênio!

Ao Tom, esqueça da canção. As roseiras estão vivas, reguemos.