16 de out. de 2019

Serendipity

Passamos um ao lado do outro na calçada, focados em nossas telas de celular, entretidos nos aplicativos. Foi bem ali, quase onde a rua da improvável floricultura encontra com a do café. Por dentro, carregávamos inúmeros pontos em comum e interessantes diferenças complementares.

Poderíamos ter trocado olhares, um sorriso tímido de canto de boca, puxado alguma conversa e tomado um drink com bate-papo ali pertinho, no número 168. Mas não estávamos nas telas um do outro. Apenas na calçada. E não levantamos nossas cabeças. Talvez eu tenha sentido seu perfume na brisa leve daquele dia e achado interessante. E isso foi toda a nossa relação, esses foram os sentidos explorados, embora eu tenha me apaixonado por essa ficção.

 

23 de jul. de 2019

Há 50 anos o homem chegava à Lua

Gabriel Garcia Marques foi tema de nossa conversa esses dias. Bem como todos os temas que podem caber em 73 perguntas. E são todos. Todos do mundo que podemos desenhar com as cores que escolhamos ao olhar pela janela de uma nave espacial. E é de Garcia Marques um livro com o título “Viver para contar”. Talvez seja isso que queiramos, a longevidade para as fábulas. Ou talvez apenas queiramos contar para viver.

Contamos muito um ao outro, mas não existimos para sermos contados. Nem em texto, nem em imagem, nem em hyperlink ou hashtag. Não somos. Talvez por isso nos dissolvamos tão facilmente na líquida modernidade. E o que contamos, então, é a verdade? Ou publicamos a ficção e nos escondemos num romance biográfico? Arrependo-me por ter vivido o início e o fim, o miolo vai me perseguir para sempre. Mas eu não venho aqui para dizer um discurso (outro título dele). Talvez venha apenas para dizer que a janela é pequena demais para o tamanho do grito que gostaria de dar.