30 de abr. de 2013

As canções que você fez pra mim

- Ela adora um caráter jesuíta nas amizades
- Você é muito diferente, né
- Sou muito diferente. Meu caráter jesuíta não é só para amizades, é para o universo. E todos mais que houver
- (Risos) Para a galáxia
- Dou espelhos e quero devoção. E fé
- Cega
- Faca amolada
- Vaca atolada. Minha mãe cantava assim pra mim, demorei pra descobrir
- Eu demorei a saber que faca amolada não era uma faca que alguém deixou de saco cheio

24 de abr. de 2013

Bellini

O relâmpago “Je serais content quand tu seras mort” a despertou. Era o resto da fita que pusera para tocar.

Talvez por discordar do verso é que tenha conseguido voltar à consciência. “Je t'ai reçu à bras ouvert”, e de braços paralelos ao corpo seria a despedida. Aquilo fora uma construção, sufocante e linda. Este último dueto – não o fim da ópera – servira apenas para marcar na pele o início de uma ária.

Aquela foi a última vez em que se viram fisicamente. Quando conseguiu levantar da poltrona, sem saber se passou horas ou tempo demais escangalhada ali, pensou em fugir de sua própria vida e tentar algo novo e longe.

O pensamento óbvio era por onde começar. Por onde recomeçar. O que?

Jogou a comida, fria e enrugada. A comida fora sempre uma personagem coadjuvante. Lavou a louça, virou e recombinou a mobília. Abriu o armário do quarto. Os melhores textos foram no baú que ele mandou buscar dias antes. Sem rascunhos. As roupas foram na primeira mala. Lembrava-se da blusa listrada, com furos para os dedos. Pela foto imortalizada digitalmente, talvez. De resto não tinha memória exata.

Espreguiçou-se e resolveu ficar. Andar.

Por mais que fugisse, tocasse fogo na casa, corresse, é certo que carregaria aquela construção consigo. A cabeça não poderia ser renovada ou deixada no passado, estava pregada ao corpo e era muito mais rápida e honesta que o desejável para o tempo. Os tijolos e telhas seriam pesados demais e os alicerces teriam que ficar para trás.

Mudou alguns hábitos.

Teve outros amores, nunca acreditou em apenas um. Do terceiro trazia a agonia de nunca tê-lo deixado passar do tapete da porta de entrada. Do quinto, uma sensação morna. Do sexto, a retomada da sensação de beleza e segurança. Perdeu as contas. Não por serem muitos, mas por serem outros.

Tê-lo como seu nunca mais era o que menos lhe azedava a boca. Tê-lo como uma bruma envolvendo a estrada e obrigando a transitar sempre devagar e com atenção é que empapuçava. Já sabia que ele não era a personificação da beleza e alegria, tal qual Tadzio, mas ainda não sabia como não tropeçar em um narcísico fim similar ao de Aschenbach. A morte pelo desejo do reflexo.

Tantos anos que perdeu tentando ser o filme, quando poderia ser a trilha sonora. Esta ária era para que ela aprendesse sobre ela mesma! Obrigada a assumir. Pediu, em sua mente, algumas desculpas. Ah, como se arrependeu de coisas...

Ele e ela trocaram mensagens, algumas mais que amenas. Cartas íntimas. Ela conversava com os filmes. Foram desconhecendo-se em um terreno de intimidade que espectadores jamais entenderiam e julgavam a todo tempo. Ela mantinha poucos amigos.

O que ele estaria fazendo enquanto ela escrevia? O que ela fez enquanto ele assistiu ao filme do qual cita um trecho na última carta? Por que não podemos ser amigos, ele pergunta? Porque nunca fomos, responde a tela. Qual lugar mais teria gostado de conhecer? Com quem comentar coisas cotidianas? Seu toque fora superado? Esquecido?!

Descontou no cartão de crédito a ausência de uma companhia com quem fazer planos em conjunto. Tempo.

Um dia pendurou-se na escada, sacudiu o corpo, como quem dança ao balançar suspenso pelos braços, soltou um sorriso tímido, de cantinho. Era um passo. A névoa começava a orvalhar.

A vida possui mais fantasmas que nossos sonhos.

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"É como se eu não te convidasse pra festa, e mesmo assim ficasse bravo por você não ir."

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Este post é uma continuação de "A vida em preto e branco"

10 de abr. de 2013

Cinco maiores arrependimentos antes de morrer

#1. "Eu gostaria de ter tido coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim."

#2. "Eu gostaria de não ter trabalhado tanto."

#3. "Eu gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos."

#4. "Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos."

#5. "Eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz."