31 de mai. de 2007

Relendo

"Fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num enorme campo de centeio, e ninguém por perto. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu queria fazer o dia todo. Ia ser o apanhador no campo de centeio. Sei que é maluquice..."

O Apanhador no Campo de Centeio - J. D. Sallinger

E nunca quis matar ninguém depois.

14 de mai. de 2007

Eu e Lynch, Lynch e eu

Embora ele tenha feito dois filmes que gosto muito - mato quem pensar que um deles é Mulholland Dr. -, continuo com sérios problemas de relacionamento com David Lynch. Mas não posso negar sua genialidade. Pena que eu não entendo.

"Quando comecei a meditar tinha uma fúria dentro de mim e eu a descontava em minha primeira esposa. Depois de duas sessões de meditação, a fúria foi embora."
David Lynch, diretor de cinema americano, recomendando a meditação para acabar com a violência nas escolas de seu país

IN Revista Veja, edição 2007, 9 de maio de 2007

10 de mai. de 2007

They could not take your pride

Depois dos vários debates comigo mesmo sobre Borat, humor, riso por obrigação e Banzé no Oeste, agora é a vez de índios, negros e mídia.

Essa questão já me assolava quando eu trabalhava com o Chaparro e, em seu site, discutíamos coisas assim, principalmente na seção Foco na Foto. Somou-se a isso o fato dos índios da tribo seminole, nos EUA, terem comprado a rede Hard Rock. Depois ouvi a declaração que se os americanos tomaram as terras dos índios – incluindo Manhattan - eles iriam comprar tudo de volta, cassino por cassino.

Neurônio vai, neurônio volta, li no ombudsman da Folha uma crítica ao infográfico que fizeram para ilustrar o “massacre na Virgínia”, no qual mostraram um homem com feições de negro, embora já soubessem com certeza que o atirador era sul-coreano.

Explodo em blog, um pouco tardiamente, depois de um encontro com Bob Butler, editor da rádio KCBS de São Francisco e diretor da Associação Nacional dos Jornalistas Negros nos Estados Unidos (NABJ), e Mary Kim Titla, a primeira repórter de origem indígena do Arizona, na Casa do Saber.

Passada a estranheza com os copos tão pequenos de café que temos no Brasil, os dois abriram uma discussão sobre esse tema que parte da idéia que o jornalismo é declaradamente racista.

A maneira como os segmentos sociais são tratados na mídia dependem também da inserção desses grupos nas redações. A presença – ou ausência – deles é refletida no jornalismo que é produzido.

Se comentamos a ida de Heraldo Pereira para a bancada do Jornal Nacional, imagino o impacto de um Xavante trabalhando na televisão. As faculdades não preparam profissionais para trabalhar e discutir esse tema. As famílias também não. A educação de base, tampouco. Saída para um cenário assim?

Complexo agir na mídia. Por isso, falar com uma só voz é muito importante. Encontrar e divulgar histórias que não sejam só de sangue, fontes de diferentes etnias para histórias boas, não utilizá-las apenas como ilustração para crimes e massacres.

É mais fácil agir nos anunciantes. Eles hoje têm políticas rígidas sobre diversidade, não porque sejam bons, mas porque sabem trabalhar o valor, o alcance e a inserção de suas marcas no mercado. Uma porta de entrada, uma troca, uma voz alta para a busca de objetivo difícil com caminho áspero.

E discutir. Talvez não Malcom X, nem Martin Luther King. Mas nunca mais Jim Crow, Black Codes ou Emmet Till. Compartilhar experiências pode não ser o segredo para a solução, mas com certeza pode fazer diferença em mais um problema com origem na má educação e heranças torpes.

Para Rosa Parks, porque ainda temos um sonho, de um menino que trabalha em uma redação sem nenhum negro ou índio.

8 de mai. de 2007

Salvo pelo Tremendão

Como disse Natasha, Helena falou bonitinho sobre nossa Virada Cultural. Vão ler! Ou aqui. Clique no aqui. Aqui!

Só acrescento que não tinha empanada no café da Pinacoteca, mas um show lá dentro fica bem louco. Batuque de branco é foda, o metrô é legal e voltar a pé pra casa sem blusa, com 19ºC, pode ser constipante. Bons amigos são sempre a melhor causa, o melhor programa, a melhor virada. E mais pontos para xixi, por favor. Quando é a próxima?

E espero que um programa tão bonito e bem aplicado não fique marcado pelo embate na Sé.

6 de mai. de 2007

Senil

Construiu um mundo de idéias e vontades que assistiu, já com a vista meio turva, ir embora pelos antigos canos do esgoto e o vagaroso gotejar da bolsa suspensa.Acordou velho, sozinho, perguntando, pensando, ponderando. Franziu o canto da boca, sacudiu a cabeça de um lado para o outro, ainda um tanto zonzo, e concluiu que aquela era só outra vez, como as outras. Tomou um banho e seguiu para a vida...

...que não lhe cansa se sussurrar que o tempo, lugar comum, passa insuportavelmente rápido e não permite que corra paralelo, esperando fazer parte.