9 de ago. de 2005

Náufrago

Sinto soltar-me a mão a tua
Esvair-se a alma que sequer viste nua
O corpo que jamais vislumbrei

Na taça, o resto do vinho que não provei
E com o qual me embriaguei

A enxurrada que verte do teto de telhas quebradas
Leva os restos do pouco amor que me sobrou
Lava nossos rostos sujos de vergonha
E já molhados pelas lágrimas que vertem
Da alma de sonhos quebrados

Não sei que rumo tomou a rosa dos ventos
O tempo passa fora do compasso
Parece seguir teus errantes passos

Há meia hora era dia cinco
Hoje já é dia dez
Amanhã não sei se será

Os beijos que te roubei
Hoje tem gosto de fel
Os que me deste e os que não dei
Vagam perdidos por bocas frias

Náufrago à deriva em alto mar
Espero a tormenta ir-se
E um navio que não irá passar

Nada me preenche e tudo me desfaz
Minha boca salgada balbucia pedidos perdidos
O frio adormece meu corpo
Logo a alma calma adormece
Já não quero abrir os olhos
Talvez nunca mais possa acordar