25 de out. de 2023

Chicken or pasta?

Esses dias, para tentar aplacar um pouco a ansiedade fugindo da rotina (e me aproximando cada vez mais do Serasa), fui de última hora encontrar um amigo em Salvador. Um pulinho, de quinta à domingo. Os dias estavam nublados, mas iluminados por tranquilidade e sorrisos. Fomos jantar. Surpresa, eram frutos do mar. 

Eu comi bem, Rod comeu o dobro, pois eu não gosto de frutos do mar. Então ele desatou a refletir que, mesmo depois de uns dez anos de amizade, ainda não sabia que eu não gosto de frutos do mar. Quem me apresentou o Rod foi a Malu, um dia em que a convidei pra jantar em casa e ela perguntou se poderia levar um amigo. Trabalhávamos todos na Editora Abril, eu fiz pão de linguiça; éramos jovens, a digestão era boa, o fluxo ainda não trazia o “re” e as veias eram mais abertas que as da América Latina (uma piada “sin grasa”). Aquela noite foi um encontro de três almas perdidas nadando em uma cumbuca. Ele e eu engatamos uma amizade que já viu mais coisas do que nossa kombi filosófica possa imaginar. 

Por falar em filosofia, ele é a parte mais racional da dupla, mas o espírito obsessor paira em ambos e o tanto de aventuras e loucuras que somamos já foge da possibilidade de auditoria para confirmar os números atuais. E as conversas reflexivas atritando o asfalto nas idas e vindas entre Sorocaba, nossa terra natal, e São Paulo, onde moro, sempre me sacodem e engrandecem. 

Ele andou quilômetros à toa - e à pé - comigo enquanto um ex-namorado tirava as coisas de casa após o término. Ele me acolheu na casa dele, na vida dele, estando eu sóbrio ou não. Ele cuida do Costelinha com todo o carinho, ele visita minha mãe e anima os fins de tarde e noites de domingo, nos enchendo de fôlego e fazendo tudo parecer mais leve e divertido.

É um dos amigos mais nômades, um cigano vagando pelo mundo em busca de um acordo entre a luxúria e o afeto. Onde quer que ele esteja, entre as outras inúmeras coisas que me lembram da nossa amizade, toda vez que driblo um tentáculo ou preciso tomar um imenso gole de água para engolir uma ostra eu dou um largo sorriso.

O Rod não sabia que eu não gosto de frutos do mar, mas conhece cada cantinho do emaranhado de sinapses do meu cérebro e cada loucurinha do repique das sístoles e diástoles do meu coração. Ele sabe me abraçar e me fazer feliz. E, afinal, o que seriam das próximas horas e novas histórias de uma boa amizade sem uma pitada do desconhecido e do mistério, não é mesmo?



27 de set. de 2023

O resto é história

Ontem fui ao pré-lançamento do livro “Preconceito: uma história”, escrito por Leandro Karnal e Luiz Estevam e publicado pela Companhia das Letras. Conheci o Leandro nos idos de 1998/99, em uma aula que fui assistir na Unicamp acompanhando meu irmão, então estudante de história. Leandro já tinha uma oratória, uma rapidez de raciocínio e uma capacidade de traçar paralelos e exemplificar situações que tornavam impossível desviar a atenção de sua fala. Depois ele foi orientador do meu irmão no mestrado, no doutarado e o apadrinhou em seu casamento. 

O Luiz Estevam, por sua vez, eu conheci logo que minha mãe me deu à luz; descontando a equipe médica, acho que ele foi a terceira pessoa que conheci no planeta. Ele é meu irmão e foi quem primeiro me acolheu quando sai do armário e me deu a mão para que eu pudesse me entender e enfrentar o mundo para encontrar meu lugar. Mesmo cercado por uma série de privilégios, esse não foi um momento fácil da minha vida. Anos depois, foi muito interessante ver o Leandro também se posicionando sobre ser parte da comunidade LGBTQIAP+. 

Poder pegar em mãos o livro que acompanhei a produção desde 2019 e que aborda um tema tão presente em nossa sociedade e tão urgente foi emocionante: “uma obra que examina os efeitos deletérios do preconceito a partir de sua construção histórica. Se o preconceito é aprendido socialmente, ele pode ser desconstruído – um movimento essencial para que conquistemos uma vida mais harmônica e justa”. 

Obrigado ao Leandro por se debruçar e esmiuçar esse tema para que possamos combatê-lo cada vez mais. Obrigado ao meu irmão, seu pomposo título de professor doutor da Unicamp, sua alma de educador, seu coração sem tamanho e seu abraço acolhedor por ter se proposto a uma desconstrução e me dado o suporte e a força para que eu possa ser quem eu sou e por fomentar esse debate. Eu morro de orgulho! Para quem se interessar: https://www.amazon.com.br/Preconceito-uma-hist%C3%B3ria-Leandro-Karnal/dp/8535935495



3 de mar. de 2023

Vem comigo que no caminho eu explico

Eu não sou uma pessoa que se sente confortável com grandes mudanças, rompimentos, o que o mercado de trabalho graciosamente buscou em língua estrangeira o termo “disrupção” para batizar. Brincava com os amigos e amigas que me ladeiam (peço que guarde esse segredo!) que minha vontade era fundar uma agência chamada “Zona de Conforto”, para quem é competente, gosta do que faz e também aprecia a sensação do conforto e acolhimento similar à do útero materno. 

Hoje, evoluindo com minha formação e minha carreira, também entendo que, no úmido ambiente uterino, seguimos o ritmo frenético das batidas do coração alheio, bem como as variações de humor e hormônios, sendo bombardeados por informações e cobrados a evoluir e “nos formar”, física e emocionalmente, desde que compusemos as primeiras divisões celulares. Já cheios de metas a cumprir e avaliações periódicas. Portanto, há que se encontrar um meio termo, aprender com as experiências, pivotar e evoluir. Reimaginar, recriar, repensar todo novo dia. 

Por isso agradeço ao Pedro Vitor de Melo Alves 🏳️‍🌈, mentor da minha carreira, parceiro nas trincheiras #LGBTQIAP+ e amigo, por ter me indicado e incentivado a fazer o eMBA na Fundação Dom Cabral, que concluí este mês depois de um período de grandes questionamentos, desafios, trocas, aprendizados e, claro, mudanças. Agradeço também a Mastercard e a Sarah Buchwitz por terem me proporcionado essa jornada, aos professores e professoras da FDC, que muitas vezes fizeram patê do meu cérebro, a Vanessa Amaral, Monique e Camila, que seguraram as rédeas da turma 112, aos colegas de turma, a minha mãe, que sempre deu todas as bases e condições pros meus estudos (e muito amor) e ao meu irmão, professor da Unicamp, com uma porção de doutorados e livros publicados, que é meu maior exemplo e esteio. 

Que eu seja um profissional cada vez mais consciente dos meus privilégios, inclusivo e trabalhando para um mundo mais justo e com oportunidades para todas as pessoas. Bora sacudir minha vida e esse planeta pra causar um impacto positivo, efetivo e duradouro.