20 de jul. de 2005

Ciao, Adendo!

Isso estava no primeiro Água de Tomate, companheiro de madrugadas de vã reflexão: “Sou o menino paranóia. Quando mudei pra SBC ano passado, uma das maiores expectativas que tinha era se faria algum amigo aqui ou ficaria sozinho durante longo tempo, falando com as paredes verdes da faculdade e branco-encardidas desse apartamento. Medo tolo...”
Esse é dos poucos excertos que me sobraram depois que os arquivos foram tragados pelo buraco-negro do severo provedor. Mas isso já me faz pensar no “quando mudei pra SBC” e no agora, que já mudei de SBC. Sentia-me tão adulto assumindo algumas responsabilidades naquela época. Manter uma casa (ainda que não com meu dinheiro), me virar na cidade grande, dormir sozinho com meus medos. E tanta coisa aprendi, tantas vezes quebrei a cara.
Foi morando lá, no apartamento carinhosamente apelidado de Adendo da Capital, que fiz bons amigos, que recebi pessoas queridas, que quis enxotar os mal quistos, que me vi sozinho e miúdo algumas vezes. Foi lá que senti ser possível amar de novo, ter um grande amor, outro grande amor, e quebrar a cara, de novo. Que tudo deixa sua marca, e que podemos sempre tentar outra vez. A vida é uma construção de todo dia, na qual muda a água, mas continua o tomate. Atrasei contas, fiz amigos. “Confesso que vivi!”
E o pedacinho de vida passado ali vai deixar saudades, daquelas boas, que não torturam. Que afagam o coração. Tendemos a olhar pra trás e achar que as coisas eram melhores, os problemas menores, tão mais felizes parecíamos. Não... A Lua parece maior quando perto da linha do horizonte. Mudam os referenciais.
De lá ficam saudades de um tempo diferente. Tantas.
Devagar vou aprendendo a me sentir em casa no ap novo, que ainda não tem um nome, mas já tem suas histórias.

No Caminho de Kandahar: Advocacia – Dr. De Paula Pinto.

14 de jul. de 2005

Mais do mesmo

Da revista Caras (desculpa para ter lido: estava com a Tê no Fran’s Café de Sorocs, fazendo um de nossos incontáveis pit-stops gastronômicos, quando achamos esse fantástico relato de simplicidade): “...Silvia Pfeifer se diverte com pequenos prazeres, como descascar laranja e beber champanhe”.

Acho que estou cada vez mais capitalista. Como posso ter parado de ver o valor do momento de “descasque” da laranja, fruta assim tão cítrica, e de uma mera taça de champanhe?? Vou seguir a Tati e virar budista.

Confuso. Com frio.
Em tempo de confluências inesperadas.
Coisas.

12 de jul. de 2005

Cartas a mim mesmo

Os dias tem sido pensar e sentir; inconstantes e incontáveis. Acho que passa, deve passar. A dor serve para mover-nos. Queira Deus, para bem. Às vezes, nessas horas, descobrimo-nos pequenos diante da vida; minúsculos em sua ausência, essência das saudades. Nesse tom, a modéstia é medo; a humildade, refúgio. Para caminharmos, preciso é saber-se sem direção. Para a direção é preciso termos consciência de nossas virtudes e defeitos, limites e capacidades. Assim, humildade é via de mão dupla. Se serve para orientar, pode ajudar a perder-se. Prepotência salva o fraco, para quem apenas a resposta humilhante e devastadora basta. O verdadeiro sábio ajoelha-se para falar com a criança; lava os pés de seus discípulos; tem consciência e humildade para aprender com quem tem ensinado; perdoa quem tem ofendido; verga a força bruta com a leveza da pena; explode em energia no último e invisível momento.

O que quero dizer hoje é obrigado. Você proporcionou mudanças, mostrou verdades, abriu arquivos. Fomentou esta retomada. Seja lá o que for, pra onde for, o segredo é olhar com admiração para a imagem, ainda que cada dia mais tosca e pálida pregada na memória. Porque nem tudo é água de tomate. Alguns são caroço, e estão pra sempre no âmago.