28 de ago. de 2007

Dia dos Pais tardio

O meu foco, nos últimos anos – os de convivência mais intensa – tem sido fazer o meu pai sair um pouco da austeridade social que ele tem (educação formal no Colégio São Bento e família rígida não são fáceis!) e aprender a “curtir a vida adoidado”. Conto, claro, com a essencial ajuda de meu irmão e de minha cunhada.

Tudo bem que vez ou outra ele precisa de um puxão de orelha também, porque exagera em algumas coisas (falta da adolescência), mas é o melhor divã para meus desabafos amorosos, profissionais e para pit stops de muita comida e gordura trans, nos mais diversos lugares.

Foi na parte culinária, aliás, que conseguimos dar nosso primeiro passo rumo à intimidade, depois de um período separados. Era na cozinha de sua casa que o tempo era só nosso e todas as vontades do estômago podiam ser atendidas, sem medo ou receio de qualquer coisa, incluindo um infarto.

Hoje as ressalvas são poucas e os momentos são muitos, mas ainda é no aconchego das panelas e das camisetas sujas de molho, ao entardecer com som de risadas e histórias da semana, que tenho certeza do amor que sinto por ele.

Aos que são e serão, ao meu e aos meus muito saudosos avôs, feliz Dia dos Pais!

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Clique aqui para resultado do almoço falado no post anterior.

10 de ago. de 2007

Por que feijão, meu Deus?

Antes de eu revelar minha angústia sobre a roupa certa para encontrar com Pascal Barbot, do L'astrance e das três estrelas no Michelin, Luiz Horta se adiantou. Segue nossa intimidade dialogal revelada, em pormenores sórdidos:

Luiz diz:
Estou quebrando a cabeça sobre o dress code

Luiz diz:
Sou muito formal, não sei ir à feijoada de sábado

Lucasof - Zygmunt Bauman é meu amigo diz:
Eu bem ia te perguntar sobre a vestimenta

Lucasof - Zygmunt Bauman é meu amigo diz:
Uma camisa de linho branco, calça cáqui, chapéu e sandálias?

Lucasof - Zygmunt Bauman é meu amigo diz:
Ou vamos de franceses dandies?

Luiz diz:
HAHAHAHAH

Luiz diz:
De boina e com uma baguete debaixo do braço e bigode pintado com rolha queimada

Luiz diz:
E um acordeom na mão

(...)

Lucasof - Zygmunt Bauman é meu amigo diz:
Eu não sei falar a língua dele. Vou tentar me comunicar com contas, espelhos e uma mulata

E terminamos em seu “Decálogo de 15” sobre a elegância:

1. Never brown in town.
2. Até 17 horas: ternos claros.
3. Depois das 17 horas: ternos escuros.
4. Preto é para luto, mafiosos e audiências no Vaticano.
5. Branco para bicheiros e quem está nas Bahamas.
6. Nunca comer pão com garfo.
7. Bêbado é quando não se consegue dar um double Windsor knot.
8. Não mencione.
9. Não importa quanto custou.
10. Melhor não tocar no assunto.
11. Sendo Príncipe de Gales pode tudo.
12. Never explain.
13. Never complain.
14. Gravata é um assunto sério.
15. Não intua. Não conclua...

Do 6 ao 10 estou indo mal, no 14 pequei. Meu score é triste!

8 de ago. de 2007

Sereníssima

Vem falar de tempo, de diferenças, desafios. Da velocidade terrível da queda. De citações, imagens, coisas assimiladas que nos fazem e desconstroem. Do abismo de outra época, que ecoa hoje e amanhã para ser nomeado clássico.

Quer que todos os caminhos permeiem sua alma e extraiam as respostas exatas para charadas insolúveis. É vontade de plantar-se no mundo, de grudar em entranhas, de brotar dos céus para dominar do alto. Louros.

“Entra-se por mim na cidade da tristeza; entra-se por mim no abismo da eterna dor; entra-se por mim na mansão dos condenados. A eterna Justiça moveu Deus criar-me; obra sou da Divina Potestade, da suma sapiência, e do primeiro amor. Antes de mim não foram criadas, senão substâncias eternas, e eu eternamente duro. Vós, que em mim entrais, perdei toda a esperança de sair!”

Tempo.
Enquanto isso eu penso Web 2.0, ponderando se a escolha, mais uma escolha, a última, foi certa, mentindo que o solado será suficiente para que encontre um caminho, seguro que a vida é acima do skyline de um monitor. Mas sem saber para onde olhar. E a areia é fina, fina.

“Havia uma dessas ampulhetas na casa de meu pai. O orifício por onde a areia sai é tão fino que parece que a parte de cima nunca muda. Aos nossos olhos parece que a areia só acaba quando está no final. E até que aconteça, não vale a pena pensar até seu último momento. Quando já não há mais tempo. Quando não há mais tempo de se pensar.”

A ironia toda é que, ao acaso, Mahler me acolhe. Mas não elucida.

7 de ago. de 2007

Em que parte da língua sinto o doce?

Acabo de assistir Sem Reservas, de Scott Hicks. Bonitinho e mais dramático do que prometia o cartaz ao chamá-lo de comédia romântica. Pipoca, Coca®, Mentos® e Mayara.

O mérito fica com a escolha da atriz Abigail Breslin (Pequena Miss Sunshine) para um papel que, seguindo a lógica dos grandes estúdios, caberia a chatinha e passada Dakota Fanning. Ela era boa, mas resolveu crescer e gritar demais. Ok, eles não são bonzinhos. Abigail está em alta.

E a tradução de “tartar” ficou por tártaro mesmo.

3 de ago. de 2007

Nhé

Amy Winehouse é a Maysa versão inglesa, sem a vocação tardia, ou a Joss Stone versão sarjeta.

2 de ago. de 2007

Um golinho de vinho, se lhe agrada

Pedir as dicas de vinho ao Luiz acabou transformando um encontro de amigos que harmonizam tudo muito bem com refrigerantes em um jantar com algumas responsabilidades. Trocamos os copos pelas taças e aguçamos nossas curiosidades e paladares pensando no que teríamos pela frente.

A boa pedida da noite era um fondue com base de queijo gruyère e um de chocolate, para a sobremesa. As indicações foram um branco – não devemos temer nem menosprezá-los – e um Porto. Quebramos um pouco o protocolo e compramos também um tinto para bater com o queijo.

E assim desenrolou-se a noite, entre suspiros de agrado e caretas de reprovação:

Usei uma receita básica para o fondue, que não é uma coisa que exija muitos segredos, com pão italiano, filão e ciabatta. O primeiro a ser desarrolhado foi o branco, Alamos Chardonnay, safra 2006 (Mistral). Para quem pensa que os brancos são levinhos, bem a cara de “lançamentos em livrarias chiques”, esse é uma surpresa. É bem intenso, casou perfeitamente com o gruyère. Aplaudido!

Terminada essa rodada, fomos para o tinto (sugestão minha, não culpem o Horta!), um Isla Negra, safra 2006, com 85% de Syrah e 15% de Cabernet Sauvignon (Enoteca Fasano). Com a boca e papilas limpas, ele é suave, bastante frutado, puxando para o cassis e com linda cor vermelho rubi, aveludada. Depois do queijo, ficou bastante adstringente, merecendo uma discreta careta.

Quando os pães acabaram e enxergamos o fundo da panela, partimos para o de chocolate, feito com barras de 70% de cacau e uma pitada de “ao leite”. Hora do convidado mais ousado e difícil de encontrar, um Porto Niepoort. Mais adocicado, com notas (finos que somos!) de frutas secas e especiarias. Ficou saboroso com nossa sobremesa, cada um com seu espaço merecido, sem concorrência. Mas tomamos pouco, porque gente leiga acha que Porto é pra ser apreciado em pequenos goles sorvidos de tacinhas miúdas.

Um sucesso! Será a rendição de jovens da geração “de cola não alcoólica” ao mundo do “mosto de uvas viníferas fermentado, com duração indefinida"?

*Publicado originalmente no Glupt!, de Luiz Horta.