2 de jun. de 2005

Por uma causa nobre

Essa é velha e já estava no outro Água, mas sempre rememoro:

Há tempos que anoto várias coisas que leio nas portas de banheiros, nos bancos de ônibus e que escuto pelas calçadas da vida. Qualquer coisa que me desperte a atenção, telefonemas estranhos, seja lá o que for. Frases captadas, impressões escritas, protestos, opiniões e diálogos do dia-a-dia.
Aqui vai um, tragicamente hilário em seu propósito:

Era uma conferência entre pessoas HIV positivo e pessoas com Parkinson. Discutiam como angariar, em conjunto, verbas para suas causas e quais as estratégias de uma campanha antipreconceito que lançariam. Até que, após algumas divergências, um senhor negro, soropositivo, lançou:

- Ah, Parkinson é doença de rico! De quem não tem o que fazer.

O idoso com Parkinson para quem a frase foi desferida retrucou, a altura:

- Olha, eu não escolhi essa doença que eu tenho. Vocês sim é que foram atrás da sua! Atráaaasss...
- E quem é que tem Parkinson e não tem dinheiro?? Olha só o Papa, leva um vidão.
- Como assim? Vidão?? E eu tenho a doença e não sou rico, muito pelo contrário! Seu viado!
- Olha, seu velho britadeira, eu te meto a mão na cara!
- Então desce da tamanca e vem! Rogélia!
- Com essa mão tremendo, o senhor serve mais pra safadezas que pra briga!

E a conversa seguiu nesse patamar até que alguém, já satisfeito com o espetáculo, pôs fim a troca de palavras de conforto. Clima estranho, a reunião acabou logo. Sem um veredicto final. Aguardemos a próxima.

E assim caminhamos. É só achar uma brecha, que vamos logo cuspindo impropérios. Salve o preconceito velado...

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