7 de jan. de 2014

Ground Control to Major Tom

Passando 2013 em revista e relendo alguns comentários aqui do blog achei um da Bean, que, dez mil anos atrás, dizia: “Li uma vez que a maioria das nossas memórias de infância vêm de fotos e vídeos caseiros. Provavelmente a gente se lembre dos pais com uma roupa X, com um cabelo Y, com um sorriso congelado. Porque são ‘retalhos’ de várias fotos armazenadas na cabeça. Será?”.

Estou embalando coisas rumo ao congelador. Essa não precisa ser uma sensação ruim, finalmente passo a entender. É a composição da memória de uma forma que restem apenas os fragmentos que nos rasgam um sorriso ao serem resgatados. Os pés de uma tarde na praia, os cabelos de uma manhã de vento, o sorriso bobo da graça cotidiana que um dia houve, a blusa da festa, a camiseta do trabalho, uma careta, a calça já fora de moda, danças desengonçadas, pequenos lugares secretos de viagens... Toda essa marmita é de imagens estáticas, mas tem uma trilha sonora. Animada, como estes dias.

Eu não escovo os dentes toda noite, por mais cansado ou em qualquer estado físico ou mental que esteja, só por asseio ou costume. É porque, bem como sempre lavo os cabelos e nunca deixo de secar os vãos dos dedos dos pés, quero deixar para trás tudo que tenha acontecido e começar um tempo novo pelas manhãs. As lembranças boas não irão com a água, comporão meu corpo, e as ruins escorrem pelo ralo. Assim me renovo, com pequenos rituais particulares.

Minhas lembranças, hoje, voltam a ter o som de páginas virando. E a caixa do último brinquedo que ganhei diz “a partir de 30 anos”, embora continue sendo um quebra-cabeça.

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“... mas se arriscar ainda é a única forma de não se tornar uma pessoa amarga. É preciso insistir no amor, apesar de tanta desordem por aí. (...) ‘Só me arrependo do que não faço’ é conversa fiada de gente bêbada. Você vai se arrepender de muita coisa que fez. Nem tudo que é quebrado pode ser consertado

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