7 de mai. de 2013

Amor numa madrugada qualquer

Estou na firma, voltando agora do curso que lota minhas noites de segunda e quarta e alguns sábados. Deveria estar pilhado refletindo sobre tudo que vi por lá, sobre os projetos e desafios. Ou sobre o incrível show dos Paralamas, que comemoraram 30 anos - meus e deles - no Rio de Janeiro e que curti com pulos adolescentes, cantando em voz alta e dançandinho com Fe Fontes até duas e tanto da madrugada. "Você não sabe quantos planos eu já fiz, tudo que eu tinha pra perder eu já perdi, o seu exército invadindo o meu país". No trabalho. No filme que assisti. Mas estou pensando no amor. Não na paixão, na conquista, no frisson, mas no amor. E pensei nele antes da aula e do show, durante a aula e o show, durante o vôo de volta, durante o trabalho, na praia, ao longo do filme, o tempo todo.

Estou na firma porque não quero o silêncio cheio de lembranças de casa. O filme está no aparelho de DVD, o bolo está em cima do fogão, com apenas uma fatia comida. O colchão branco está no chão da sala, tem bebidas na geladeira. Eu estou na firma e o lustre colorido está com suas sete lâmpadas apagadas.

Tudo já foi dito sobre o amor, é verdade. Escrito, cantado, versado, vendido, acertado, estragado, gritado, chorado, sorrido...

Ele é fogo que arde sem se ver, é líquido, impulsiona heróis, gera ridículas cartas de amor. É como ser poeta, coisa difícil de definir. "É amar-te, assim perdidamente, é seres alma e sangue e vida em mim e dizê-lo cantando a toda a gente". É rédea, é deslumbre. Não tem fim.

Eu não sabia nada sobre amor até que passei um ano olhando para meu reflexo. Um ano dolorido e sozinho. Eu sabia sobre paixão, disputas, medo, concorrência, sexo (talvez), companhia, ser deixado para trás e replicar modelos. No entanto, nunca soube o amor e o respeito. E a alegria dessa dupla.

... I watched you suffer a dull aching pain, now you decided to show me the same...”

Aí, ao fim desse ano e de uma década, eu tive um estalo. Eu me vi nos livros, nas cartas, nos poemas, filmes e tudo mais. Eu quis olhar de dentro, não com um pé no resguardo. O que, sejamos honestos, ferve a cabeça e confunde ainda mais o dia a dia.

Talvez eu até agora não saiba, ninguém nunca vá saber, mas acredito na Carolina Ferraz. Diz ela que foi um amor, um único amor que veio, cruzou sua vida, tocou sua alma e ficou marcado em sua pele. E que numa quinta-feira a tarde de um ano qualquer, tropeçamos nesse amor já supostamente esquecido e percebemos que amor igual não há, e que aquela pessoa continua e continuará a ser nossa referência afetiva mais sincera e profunda.

Marcado na pele. Elis está cantando algo semelhante ao lado deste post.

E acredito em Dante e que, ao fim de todo inferno, “do ledo céu as cousas belas, por circular aberta divisamos: saindo a ver tornamos as estrelas”.

Ele é oposto aos planos e aos portos seguros. Talvez eu esteja começando a entender o que é amar. Talvez esteja com síndrome do pânico.

O amor não é tecnologia. Sua história é batucada em uma máquina de escrever. Seu som é o de teclas, firme, lúdico, identificável, decifrável apenas se decodificado na página timbrada. O amor é o enroscar do mecanismo da máquina de escrever ao se digitar duas teclas simultaneamente. Velho, inevitável, errado e charmoso.

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Porque essa noite eu tive um pesadelo recorrente sem ter sido um mau menino.

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