28 de jan. de 2013

Janeiro

Até o meio da adolescência olhava para o Rio com a cara amarrada. Eram memórias dos tempos da separação de meus pais, a idéia de violência, a resistência com o sal e a areia. Até que, nas catracas do metrô de São Paulo, dei um passo na direção contrária e voltei a calçar meus chinelos e fazer uma pequena mala.

Gabriel me fez entender a vida no Rio, os cariocas e seu abraço. Nossos dias na Tijuca ainda tinham muito dessas linhas que escrevi acima, mas foi o começo do desmanchar. Foi o tempo da cidade, não da praia. Scrumble, Gummy, comida da Tia Wanda, família, flauta transversa e passeios alternativíssimos para o Lucasof de então. A Floresta da Tijuca de All Star, foto lá no topo e bolhas nos pés. Os amigos, a faculdade, a estação Saens Peña e a praça Varnhagen, que o sotaque transformava em algo engraçado. As despedidas. "A onda ainda quebra na praia, espumas se misturam com o vento", canta Lenine quando rememoro.

Thais, a superlativa Thata, que define o Rio como "o mar, quatro quadras e uma enorme pedra", quando fomos juntos à um casamento, me fez voltar a pisar a areia, comer empada dos vendedores ambulantes, ouvir a música que entoam para vender mate, sanduíche natural, biscoito Globo. Entrar no mar, sorrir para o sol, caminhar sem rumo, sem porquê, feliz.

Com o Caio foram dias que alguns posts anteriores sintetizam melhor do que poderia fazer neste texto. Foram lindos. Foram tantas regatas e caipirinhas na praia, lanches no quarto do hotel. Shopping, claro, porque somos paulistas. As caminhadas no calçadão, ainda que trôpegas, poderiam ser uma gravação de videoclipe para música de Avril, que perseguimos e assustamos. A graça de um macaquinho comendo bolacha no caminho para o Cristo e seus incansáveis braços erguidos. E, asseguro, as memórias todas ainda estão lá. Acabei de conferir. As melhores, as coradas, sustentadas por muita isca de peixe. As outras, nubladas, choveram, permearam a areia e refizeram-se.

Bethânia declama o lado que menos visito, mas a aura do todo. “Foi Copacabana quem me recebeu, com seu cheiro de batata-frita e gasolina, suas tardes de raios e trovões inesperados e as suas noites inesquecíveis, mágicas”. O botão "stop" apertado na década de 1970.

Toda ida para lá carrega comigo um pouco de angústia; desafiar minha inerente solidão, o nada do mundo de História Sem Fim. Passa ao desembarcar, porque sei que ali existe alegria e calor. Em vez de Fantasia se desfazendo, é Pleasantville ganhando cores. Technicolor. São todas as músicas já compostas. 



Por entre túneis escuros, ruas decadentes, casarões esfarelando, morros e artérias vermelha e amarela chega-se a visuais incríveis. São caminhos. Passagens.

O Rio e eu estamos constantemente fazendo as pazes, melancólicos como a voz de Johnny Cash. Pedindo um ao outro 'perdão pela duração dessa temporada, dizendo pros da pesada que vamos levando'.

Agora, cercado de amigos das mais diversas origens e corações, junto mais uma porção de lembranças sobre a cidade. Fe Fontes regeu esses dias com seu encanto que transborda. Lets e seu sorrisão atravessaram comigo a avenida atrás do bloco de carnaval, embaixo da chuva, depois de muito sol. É assim, mistura. Vinny e sua busca pela fuga de todo o concreto de Brasília. E gente nova. Conhecer. Rir. Mudar. Continuar.


Aprendi a fazer do Rio minha notícia boa.

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