20 de jan. de 2010

Ponto.

Decretar o fim antes de um fato marcante ou da perda do respeito é
para os muito fortes ou determinados. Os demais temem estar errando, a
solidão, a carência, as possibilidades, o que quer que o cérebro
invente nesses tempos líquidos para driblar a decisão.

Seja por qualquer via ou causa, terminar é um ritual. Um cerimonial de
encaixotar coisas, desengavetar outras. Dar destinos a cartas
inacabadas ou nunca enviadas, encontrar espaço para sentimentos
reaproveitáveis, apagar palavras nunca ditas. Tentar rearranjar a
casa, para que cada canto perca a história acumulada e volte a ser um
espaço a ser desbravados pela próxima pessoa que, cada vez mais
difícil, entrar pela porta.

Cada cerimonial gasta um pouco da verba total. O coração fica mais
resistente em fazer concessões, os abraços, beijos e entregas parecem
sempre custar muito mais caro a cada novo planejamento.

Tirar a roupa, tomar um banho, olhar atentamente a água que escorre. Pensar na trilha perfeita, escrever, curtir a fossa.

É difícil ser atropelado enquanto se atravessa a rua pensando.

Dos clichês, sozinho ninguém morre.

Tudo entra no arquivo da memória, que podemos moldar como bem queiramos.

Um comentário:

Anônimo disse...

De longe, ao que te conheço, a memória já deve ter sido moldada. O término, para muitos, não é o fim, mas sim um novo começo. Ou uma nova conquista. Se algo terminou, é porque estava errado. Dos clichês, o mais correto é afirmar que, se o fim não foi convincente, tudo o que você precisa fazer é lutar para destroça-lo. Acabando com o fim, você decide o que terá no futuro: um recomeço, uma linha longa, igual, sem fim, uma reformulação ou, quem sabe, um fim, não de algo, não de alguém, mas sim de um momento. Cada momento tem o seu tempo, o seu pode ter passado. Basta buscá-lo.