Decretar o fim antes de um fato marcante ou da perda do respeito é
para os muito fortes ou determinados. Os demais temem estar errando, a
solidão, a carência, as possibilidades, o que quer que o cérebro
invente nesses tempos líquidos para driblar a decisão.
Seja por qualquer via ou causa, terminar é um ritual. Um cerimonial de
encaixotar coisas, desengavetar outras. Dar destinos a cartas
inacabadas ou nunca enviadas, encontrar espaço para sentimentos
reaproveitáveis, apagar palavras nunca ditas. Tentar rearranjar a
casa, para que cada canto perca a história acumulada e volte a ser um
espaço a ser desbravados pela próxima pessoa que, cada vez mais
difícil, entrar pela porta.
Cada cerimonial gasta um pouco da verba total. O coração fica mais
resistente em fazer concessões, os abraços, beijos e entregas parecem
sempre custar muito mais caro a cada novo planejamento.
Tirar a roupa, tomar um banho, olhar atentamente a água que escorre. Pensar na trilha perfeita, escrever, curtir a fossa.
É difícil ser atropelado enquanto se atravessa a rua pensando.
Dos clichês, sozinho ninguém morre.
Tudo entra no arquivo da memória, que podemos moldar como bem queiramos.