Quando penso em catalogar 2013 como ruim, lembro que pulei para os 30 anos em casa, com meus amigos, mergulhando na piscina de bolinha. Saímos para dançar logo após a meia-noite. E segui festejando com mais amigos, Lego, pizza e brownie na casa de minha mãe.
Caminhei pela Rue Balzac, tomei vinho nos degraus do Trocadéro enquanto a Torre Eiffel piscava, vi uma Rainha saindo de seu palácio, visitei um bunker de guerra. Casei a Pedra de Roseta com o Código de Hammurabi, em segredo, num cantinho de minha imaginação dentro do British Museum, com fish&chips para comemorar.
Chorei enquanto cantava “Thunder Road" muito alto e desafinado no show do Bruce Springsteen. Meu irmão me abraçou apertado e meu pai nos observava e batia raras palmas. “So you're scared and you're thinking that maybe we ain't that young anymore...”
Alguém escolheu meu shampoo pela primeira vez e fez espuma em minha cabeça numa manhã etérea.
Os Paralamas do Sucesso cantaram as melhores músicas (ou as minhas favoritas) de seus 30 anos de carreira para Fe Fontes e para mim, em nosso relógio sem órbita no Rio de Janeiro. Fui várias vezes ao Rio de Janeiro.
Elba Ramalho seguiu com a brasilidade e ameacei uns passos de forró.
Vi duas estrelas cadentes no limpo céu do interior e fiz os pedidos mais clichês.
Melhorei meu corpo, cortei o cabelo e mantive os cachos possíveis. Adotei Ruby Tuesday, mudei minha relação com minha casa. Troquei todos os lustres de casa. E a cama. E tirei muitos enfeites que já não faziam sentido. Mantive o quadrinho do Laerte na parede da escada.
Vi muito mais os meus amigos, com conversas leves e divertidas. Procurei os meus amigos. Fui convidado para ser padrinho em três casamentos e um nascimento em dose dupla.
Os trocadilhos voltaram, junto com minha empatia desengonçada e subserviente à hierarquia.
Entendi um pouco mais a minha loucura.
Reencontrei a alegria ali no finalzinho, voltando para minha casa na manhã do dia primeiro de 2014, pé ante pé para não acordar minha mãe, que preferiu dormir após a virada em vez de ir para a balada comigo. Sua respiração era tranquila em minha cama. Deitei no chão de madeira da sala, com um sorriso de adolescente safado, e percebi que tudo havia conspirado para o bem.
“...show a little faith, there's magic in the night”.
--