29 de dez. de 2005

Retrospectiva Água de Tomate 2005

Impostem a voz que narra as coisas dentro da cabeça, façam com que ela imite a do Cid Moreira e lá vamos nós para a Retrospectiva Água de Tomate 2005:

Como eu disse no comentário que deixei no blog da Fe Fontes, a minha Lady in Red, este ano me valeu como dois. Em cujas metades descobri um rumo, um Lucas, uma vida, um sem fim de vontades e quereres; para me ver, como sempre, perdido numa imensidão. Mas, dessa vez, sinceramente feliz ao cabo de tudo!

Sentimental eu sou...
No começo o clima era de “eu vi a escuridão, eu vi o que não quis; Amei mais do que pude, eu fiquei cego de paixão”. Negligenciei faculdade, família, amigos, alma, para atirar-me no delicioso abismo da paixão doentia e mal ou não correspondida. Agora eu vejo “o amor evaporando pelos céus da Guanabara” e abraço feliz a lembrança de mais um arranhão neste coração que finge ser de pedra e só faz é trocar os pés pelas mãos e pelos nãos. Mas ele ainda palpita e precisa ser desfibrilado!

Fuga
Teve outra ida ao México, país que me surpreendeu e arrebatou, tomou meu coração logo de cara. Sou um mimado de marca maior e já rodei até que bastante por aí, mas o México conseguiu iluminar uma parte de mim como nenhum outro lugar e voltar para lá, aproveitando ao máximo (e matando aulas com autorização de pai e mãe) foi incrível.

Darwin
Foi, sem dúvida, o ano da Seleção Natural de Amigos. As coisas mudaram de uma maneira que eu não entendi muito; mas passada a peneira sobraram pessoas muito queridas e importantes, sem contar os de sempre: Quatro Cavaleiros do Apocalipse Sorocabano, os Magnatas da História e afins.

Quase gente grande
Em 2005 a energia eólica foi derrotada pelo minhocão. No cair da ficha que eu estou no último suspiro da faculdade (ligeiro medo e apreensão), meu grupo de TCC (Mc Fountains, Lemp e Yaya) me convenceu a deixar de lado e energia eólica e embarcar no impacto social do Minhocão. Ok, embarquei muitíssimo feliz tendo a fenomenal professora chilena Verônica Aravena como orientadora.

Lere lere lererererere
Consegui o tão almejado “trabalho de todo dia”, com mesa, telefone e tudo mais! Foi sob indicação do Lemp em conluio com Mc Fountains que eu entrei no iG e, entre erros e acertos, broncas e elogios, salário baixo e altos jabás eu tenho me realizado bastante profissionalmente. Cercado por nove mulheres (três chefes) em uma bancada cor de laranja.

Overdose
E sim, sim. Estudo com o Lemp e a Fe, faço TCC com os dois e trabalhamos no mesmo lugar. Já firmamos o PNAPMSC (Pacto de Não Agressão Para os Momentos de Saco Cheio). Até onde sei não houve nenhum por ora, embora Lemp odeie momentos de silêncio.

Home, where my thought's escaping...
Mudei do Adendo da Capital, o apartamento de SãoBe (do qual já falei aqui), com um ligeiro aperto no coração para tomar posse do auge do meu mimo: meu loft, minha primeira “casa própria do Baú”. É pequeno, mas a coisa mais charmosa que há. Decorado com restolhos de mobília, mais a minha maneira impossível. É o QG dos meus amigos, o que muito me alegra. Fui o primeiro e único morador do prédio por três meses. Sou um sub-sindico atuante! E das grandes e iluminadas janelas posso ver algumas árvores e o sugestivo prédio da Abril.

Revo Styller
Meu cabelo foi um capítulo a parte. Cresceu, virou um ninho, alisei, ficou uma merda, tosei, cresceu de novo e agora assumi minha verve sarará com mucho gusto. Cheio de cachos.

Família eh, família ah
Aparei arestas no relacionamento com minha mãe, que vai de vento em popa, posterguei (para variar) algumas lavagens de roupa suja com meu pai (mas como crescemos em nosso relacionamento!), alfinetei-o a torto e a direito e titubeei com meu irmão para, em uma sincera conversa a dois no último fim de semana, esclarecer tudo e retomar nossa normalidade de irmãos que se amam mais que tudo e vivem grudadinhos.

Copiado na cara dura que me é peculiar do blog da Mc, um bate-bola, jogo rápido com Marília Gabriela:

Palavra: Mudar/Medo
Música: Old Habits Die Hard (Mick Jagger), Love Genaration (Bob Sinclair), Mahler (que nomeia meu prédio), Same Old Me (Andrew Strong)
Livro: Quase Tudo (Danuza Leão), O Vôo da Madrugada (Sérgio Sant´Anna)
Show: Esse ano rendeu! Mas acho que Pearl Jam leva...“Oh with you I could never be alone”
Restaurante: Lanchonete da Cidade, Pop´s, Anquier, Crepon (obrigado, Ga). Sempre um pit-stop para comidinhas!
Viagem: México! E que venham as próximas...
Filme: Putz...Entre tantos, fico com rever Mel Brooks, como sempre. E “Um Filme Falado” é que não foi! Uurrgh!
Banda Nacional: Besouro Verde (a do irmão, né!)
Álbum: Novo dos Stones, óbvio (Valeu, Pablo)
Um lugar: Tulha (QG do TCC e das fofocas do iG), casa da mãe, minha casa.
(Re)Descobri: Algum Lucas. Um Lucas. O auto-proclamado Lucasof, que no singelo apelido abraça, enfim, heranças paternas e maternas para criar um “eu”. E Cesária Évora!
Uma loja: O Camiseiro, para viver. V-Rom (Cavaleira), para torrar.
O que mais valeu a pena: Tudo, sempre. Porque a alma, quero crer, não é pequena e “je ne regrette rien”.
Um momento: quando o RH do iG ligou falando que eu estava empregado. Um marco.
Planos para 2006: Parar de comer unha, entrar na academia e ser plenamente feliz em um namoror. Baboseeeeira, baboseira.
Uma frase: “Give me the beat boys and free my soul, I want to get lost in your rock and roll and drift away…”
O ano acaba assim: "Let it rain as I walk these streets unknown..."

Abraaaaço e feliz ano que vem para todo mundo!

"Maquinando"...

São 3h45 e, depois de ler mais um trecho do livro novo da Danuza, estou melancolíssimo escrevendo minha Restrospectiva 2005.

Espero que fique pronta pra amanhã.

...como diria o filho de Savater.

15 de dez. de 2005

Downing of the Age of Aquarius

Antes da retrospectiva águadetomate, nada como as previsões dos astros para Aquário no ano de 2006:

“Em 2006 todos os pactos precisam ser refeitos. Com Netuno no seu signo e Saturno no signo de Leão você terá a sensação que perdeu a autonomia e que todos os seus passos estão sendo determinados pelas necessidades dos seus parceiros. Se encarar essa questão com honestidade vai perceber que as escolhas sempre foram suas e que os outros só funcionaram como um espelho para as suas inseguranças. Mas se os relacionamentos vão ser complicados, a vida profissional vai ficar cada vez melhor. Sua presença vai passar uma firmeza maior do que você realmente tem, mas que vai fazer um enorme sucesso.”

Por Mônica Horta, é claro.
E que assim seja, porque eu quero mesmo é me dar bem no emprego e relacionamento bom é relacionamento trash! Vários, aliás. De uma vez só. E tenho dito!

...suspiro...

11 de dez. de 2005

Let it rain

E lá vai o pó cobrindo este blog novamente...
Último post foi durante um plantão. E este também o é! No iG desde 6h, esperando ansiosamente 14h, sem naaaada o que fazer, com a líder da gang do Babado sentada na posição Lat16º Long25º partindo do Trópico de Capricórnio deste que lhes escreve.

Domingo, 11 de dezembro de 2005, 13h32 e a sua revista eletrônica só vai estar no ar depois das 20h, com uma matéria sobre Le Parkour, assunto do qual EU JÁ falei em primeiríssima mão no iG Jovem: http://igjovem.ig.com.br/materias/338501-339000/338891/338891_1.html

(Lucasof) É fantástico, da idade da pedra, ao homem de plástico...
Ah uh uh ah ah uh uh ah uh uh ah uh uh ahhhhhh


Por falar em ansioso, fiquei altamente perturbado (Ah é? Perturbado, você? Não diga?) depois de ter lido o blog da Mc Fountains..."Permitir outros mundos. Permitir outras pessoas".
E fora que ela é mais uma do fã-clube "Eu leio meu horóscopo em todos os meios de comunicação possíveis e imagináveis e não nego". Mas também não sigo.
No creo, mas que hay, hay.

Só um minuto. Minha olheira comprimiu o olho esquerdo e jogou ele pra fora da órbita.

Pronto, encaixei de volta.
E no mais, isso é tudo.
Abraaaaaço
(& Let it rain, como canta Tracy Chapman)

"Let it rain
As I walk these streets unknown
To no one named
Not even myself
When I'm low

Give me hope
That help is coming
When I need it most..."

19 de nov. de 2005

DesliGado

21h30 de sábado, 19 de novembro de 2005, Lucasof está no iG, sentado na redação do Último Segundo, contando os (perdoem) segundos para poder ir para casa, tomar um banho e pensar no que fazer durante as 8 horas que lhe sobram antes de ter que voltar para o iG.

Cansado como nunca antes. Tudo embolado!
Facul, trabalho, affairs...

Ok, pausa! Estou me desligando deste corpo temporariamente. Qualquer emergência, deixe seu recado após o último bip do medidor de freqüência cardíaca ou tentem falar com o caboclo tranca rua que vai se apoderar deste meu corpo moreno de cabelo sarará.

Caham-ham...é...hum...então...Leram o horóscopo de hoje?

Tudo bem, tudo bem! Já to de saída.
Até a volta, quando uma boa alma da Universal conseguir tirar este encosto e destrancar a minha vida para eu poder voltar à vigília dos 318 pastores sob o manto da riqueza.

4 de nov. de 2005

Jogo búzios e faço amarração amorosa. Só paga se funcionar.

Tudo bem, tudo bem. Prometo que essa será a última vez que faço isso. Lá vai o horóscopo de sábado e domingo para mim:

"A entrada de Vênus na casa do inconsciente tem o poder de transformar em imagens uma série de medos pouco definidos que vivem atrapalhando o seu rendimento e a sua felicidade. Todas as formas de recolhimento e de auto-conhecimento são muito benéficas agora. Se você ainda não sabe meditar, esta é uma época ótima para aprender. Se já sabe, para encontrar mais tempo para isso.

Durante uma boa parte do dia, você vai sentir-se bem nos ambientes abertos e no meio dos seus amigos. Mas não estranhe se a partir do final da tarde você sentir necessidade de um pouco de silêncio e recolhimento. Escolha com muito cuidado o programa que vai fazer esta noite.Com o Sol e Júpiter no meio do céu, você pode estar passando uma imagem poderosa que não corresponde muito à maneira como está se sentindo por dentro. Isso é ótimo...

Se você ainda não fez isso, não vai ser agora que você vai cortar de vez o cordão umbilical. Muito pelo contrário, vai achar que ninguém consegue viver sem você..."

Vejam só, é quase uma bula! Para quem ouviu minhas lamúrias esses dias todos (leia-se amigos de trabalho, colegas de auditório e MC Fountains no Cibiè Caolho), encaixa da maneira fe no me nal. Já estou quase me convertendo e virando um crente fervoroso!

Ok. Devo estar mesmo muito, muuiittoo perturbado esses tempos. Indubitavelmente.
(riso nervoso)

3 de nov. de 2005

Early Edition

O horóscopo de amanhã para o signo de Aquário:

"Você está muito sensível a tudo o que acontece com a sua família. Só não adianta tentar fazer com que todo mundo fique feliz. Cada um tem sua maneira de lidar com a vida.

A presença de Marte em um signo de terra desperta um espírito prático que você dificilmente mostra para o mundo. A necessidade de demonstrações concretas de afeto vai contrabalançar o excesso de idealismo que está dirigindo as suas escolhas desde que Netuno entrou no seu signo."

Quer mais?!?
Mônica Horta roxxx.
Im pa gá vel.

PS: No creo
PS2: Yaya, vai firme e forte que mais um pouco a gente vai rir disso e se entupir de pizza. Força.

30 de out. de 2005

Escarafunchando

...Salpicar inconseqüência nesta ária de meus dias. Um pouco, é claro. Sem perder o limite de situações e tampouco adentrar o que julgo demasiado. Manter as rédeas firmes em uma carroça sem rodas. Uma vez com o corpo em queda, ceifar os espinhos e plumas de novas sensações.

"Do que adianta você ter essa alma colada aos ossos, dessa carne errada. Sem o risco a vida não vale a pena. Se você não quiser arriscar, não comece. Isso quer dizer: e se você arriscar e perder namorada, esposa, filhos, emprego, a cabeça e até a alma? Mas é sempre melhor isso, do que olhar para todas essas outras pessoas que nunca acertam, porque nunca se propõem ao risco"
(Goethe / Paul Valéry)

"Ouse, ouse... ouse tudo!! Não tenha necessidade de nada! Não tente adequar sua vida a modelos, nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém. Acredite: a vida lhe dará poucos presentes. Se você quer uma vida, aprenda... a roubá-la! Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer. Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso: algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!"
(Lou Andreas-Salomé)

De extremo a extremo até o equilíbrio. Será? Explodam o mundo e a modéstia.

"Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas"
(Fernando Pessoa, Poema em Linha Reta)

Eu, quase lá.

26 de out. de 2005

Seus pés estavam doendo...

...e ela recusou-se a ceder seu lugar. Porque sabia muito bem que lugar era esse.

Até mais, Rosa Parks.

23 de out. de 2005

Desfibrilando

O tempo era cinza e o passo era trôpego. Ainda assim, você estendeu-me a mão e, acalentando-me, traçou no chão de terra seca um caminhar de quatro pés, lado a lado. Das pegadas fazia-se luz e campos verdes, e brotou a vida ao meu redor. Vesti a minha pele e lhe dei a mão. Em momentos todos você estava ali. Da entrevista ao primeiro dia de trabalho, do jantar de comemoração, das frescuras, crises, risos, ao fim.
Mas que ele não seja a retomada de um outrora, mas um novo agora para nós. Quero sempre estar ao seu lado, porque sua grandeza abraça a alma e acolhe. Pensar em você é inundar-me de elogios e ternas lembranças; todos os agradecimentos e as desculpas não bastam.
Pudera um “eu te adoro” bastar, suprir, consertar.
Eu te adoro.
“You got a fast car...”
Sem beijo,
Lucasof

17 de out. de 2005

Enquanto isso, no Terra da Gente...

"Brasil Telecom funde IG, BrTurbo e Ibest

Está marcada para começar dentro de instantes em São Paulo reunião que anunciará a fusão dos três grandes portais controlados pela Brasil Telecom - o IG, o BrTurbo e o Ibest.

Uri Rabinovicht, executivo da Brasil Telecom, passará a responder diante da direção da empresa pelos negócios da área de internet.

O responsável pelo conteúdo dos três portais reunidos será Bruno Sena, atual presidente do BrTurbo.

O jornalista Matinas Suzuki, atual presidente do IG, ficará três meses como consultor da Brasil Telecom. Depois irá montar a rede de jornais de um amigo no interior de São Paulo.

A fusão dos três portais ocorre pouco tempo depois que o Banco Oportunitty de Daniel Dantas deixou de ser o principal controlador da Brasil Telecom.

Ela passou ao controle de um grupo de fundos de pensão.
Enviada por: Ricardo Noblat" Blog do Noblat, 17/10/2005.
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Uh, Sorocaba, uh, Sorocaba!! Todos em polvorosa nas terras do querido Baltazar Fernandes! Nativos e a TV Tem, a TV Que Tem Você, esperando o estremecedor e revolucionário “jornal de um amigo do interior”.
Atenção senhores passageiros, reclinem suas poltronas e apertem seu cinto de segurança.

Essa cidade é o que há. E nem só Blog do Noblat tem fuuuuros de notícia.
Ora ora ora...

7 de out. de 2005

Só o que sobra é a memória

Meu avô morreu e minha avó não quis morar sozinha. Desfez-se da casa e passou a morar três meses na casa de cada um dos seis filhos. Menos na de um, “porcão”, ela dizia, “porque a casa dele é muito suja”.

Poucos anos e alguns desentendimentos depois, ficava apenas na casa de quatro deles. Depois, na de três. Os filhos começaram a sentir-se incomodados, a tratá-la não tão bem como deveriam. E ela nunca conseguia fincar raízes em um lugar, ter seu cantinho, suas coisas todas juntas.

Foi aí que minha mãe – sempre ela – chamou minha avó em um canto e disse que já era hora dela parar de agüentar humilhações e ter uma casa onde ela pudesse receber filhos, amigos e netos.Ela, que tão amuadinha andava, titubeou. Mas foi. Penou um pouco no começo, mas depois renasceu.

Recebia as amigas para um chá, o pessoal da igreja para o arroz-doce depois do culto, cultivava suas lindas plantas, recebia os netos todos para dormir lá nos fins de semana, fazia café para os filhos aos domingos, começou (isso mesmo, não voltou, começou) a ler (adorava romances água-com-açúcar, ao melhor estilo Cinco Minutos de José de Alencar)...

...e fez uma amiga, Dorothy. Eram vizinhas de porta e se adoraram. Apresentava a nova amiga assim: “Essa é Dorothy, minha amigona. Ela é poetisa! Da Academia Sorocabana de Letras, julgadora em concursos de literatura”. Era uma amizade encantadora.

Minha avó foi, pela mão de um “anjo do senhor”, zelar por nós lá do alto. Deixou, além das saudades, de suas plantinhas, suas histórias, da prova de que é possível renascer e ser muito feliz a qualquer hora da vida, a amiga poeta:

Tive quatro premiações este ano. A Therezinha era sempre a primeira a ouvir as minhas bobaginhas. Como ela gostava muito, mando-as aqui Sei que você e os meninos gostam:

Niterói - tema Promessa

Ora eloqüente, ora mudo,
teu olhar é uma charada:
promessa sutil de Tudo,
no fútil revés... do Nada!

São Paulo - tema Cristal

Atravessando o vitral,
a luz do sol se desvela,
pondo, em chispas de cristal,
seu brilho à humilde capela.

Pirapetinga - tema Saudade

Persuasiva e eloqüente,
saudade fala de afeto,
com sete letras, somente,
que valem todo o alfabeto.

Pouso Alegre - tema Coragem
Coragem?! Ah quem me dera
que por graça ou bruxaria,
aquela mulher que eu era
ressuscitasse algum dia!

Dorothy Moretti”

Como Assim?

www.igjovem.com.br/comoassim

30 de set. de 2005

Fuuuuuuuuuu!!!!! Cof, cof, cof...

Soprando a poeira que cobre este blog, uma do caderno de devaneios do colegial:

Gymnos
Andemos todos nus
Assim como quando nascemos
Sem temores nem pudores
Tiremos nossas vestes

Mostremos nossas vergonhas
Vivamos o Livre Arbítrio
Ignorando qualquer Édito
Admirando nus uns aos outros

Desprendamo-nos das amarras de pano
Caminhemos todos livres
Exibindo nossas equalizadas diferenças
Andemos todos nus

Acho que estou envelhecendo e ficando mais pudico.
Fervilham vontades, apontam novidades.
Parodeando meu inconstante pai: "eu, o louco, a caminho!"
Abraço com R puxado e T ressaltado, porque o Tomate está indo para o exílio voluntário.

24 de set. de 2005

Tempo tempo tempo

Espero poder retomar maiores viagens acerca de nada logo. Os dias têm sido curtos para tanto. Quod scripsi scripsi

21 de set. de 2005

Sexo animal

Mais uma do mundo da piada pronta:

"Um homem morreu em um sítio nos Estados Unidos frequentado por zoofilos ao ser sodomizado por um cavalo, informou a polícia nesta segunda-feira.

A vítima, de 40 anos, sofreu graves lesões internas e seu corpo foi deixado por desconhecidos em um hospital de Seattle, no dia 2 de julho, pouco depois do ato.

Seu cólon rompeu, como os órgãos inferiores da mesma região, e a hemorragia o matou.

As investigações revelaram que o sítio era especializado em zoofilia e oferecia a seus clientes cavalos, pôneis, cabras, ovelhas e até cães. Tudo era anunciado pela Internet.
A polícia apreendeu fitas de vídeo com centenas de horas de atos sexuais entre homens e animais.

O código penal do Estado de Washington não proíbe a zoofilia" AFP

20 de set. de 2005

Bacon

Minha barriga tem tentado dominar toda minha existência. Começou a surgir na região umbilical, tomou toda a lateral e agora vem se alastrando e crescendo, com uma rapidez e agilidade impressionantes. Vou me juntar ao Teco (meu Beagle Bala de Canhão) em seu sofrido regime. Só ração light. E, muito raro, um ou outro abacate que caia do pé.

Pudins de cachaça

Do mundo da piada pronta:

"Os amigos Carlos Roberto Aquino, 39 anos, e Joel da Silva, 23, queriam descobrir qual dos dois bebiam mais. No sábado, sentaram-se um bar, no povoado Cobra D'Água, município de Pacatuba, a 116 quilômetros de Aracaju, e beberam até morrer.

Carlos morreu no local, enquanto Joel foi levado para um dos hospitais do interior, mas não resistiu. Ambos tiveram intoxicação por excesso de álcool.

O desafio entre os amigos era saber quem teria coragem de beber um copo cheio de cachaça pura. Nesta brincadeira, consumiram oito garrafas de cachaça. O primeiro a cair, no próprio bar, foi Calos Roberto. Joel ainda chegou a ir para casa, depois foi medicado num posto de saúde. Ao retornar para casa, dormiu e não acordou mais." US

Pelo menos o Joel ganhou a aposta.

15 de set. de 2005

Cartas a mim mesmo

Hay días en que no se lo que me pasa. Nunca li Neruda e não tenho o poder de apagar o Sol. Mas alguns escritos comovem a mais pífia das almas; que dirá daqueles que se arriscam a usar os corações?

Angústia e medo são os adjetivos de que abusa. Eu diria amor e esperança. Esperança é pouco: fé. Amor é morno: paixão. Pequeno porque assim se vê, porém de vida pulsante, pujante, ultrajante pensar o oposto. Logo, grande, enorme, imenso, desmesurado amanhecer de poeta.
Havia qualquer coisa sobre medo de se abrir; pensei em vida aberta que tenta se esconder (à toa; melhor ao léu!). Algo sobre amores intensos e seus fins; senti consumação e turbilhões. Em outro momento, havia de fugir para o local ameno e campal; pura tolice: não se foge à alma quando se leva o corpo para passear. Sua casa é, e sempre será, você.

O mesmo para o colo materno, fraternal ou da amante. São seus se você os faz. Para fazer, tem que querer. Isso está claro em seu verso, sua prosa, glosa à guisa do grude! Dic mihi: quare fugere urbem? I ad pacem tuam! (Pobre do meu latim, milionária da minha intenção. De boas delas, o mundo está cheio e nem por isso melhor. Mas, vá lá, pitaco talvez tenha seu lado positivo.) Réquiem de nós mesmos, só na paz do que fazemos com nosso redor.

Há filósofos que sempre pregaram o valor inenarrável do passado e da memória. Maldito em seu tempo, idolatrado em demasia nos atuais, contudo, há outro que costuma dizer que o passado é cinza que se faz necessária bater no cinzeiro. Virtude no meio-termo? Talvez não. Reimagine-se, recrie-se e repense-se todo novo dia. Acredite, apesar de já ter sido acusado de fazer sofrer por pensar assim, que mudar é aprender a fazer com que os outros esperem menos de nós e aprender a esperar menos dos outros.

E de Nietzsche a Calvin e Besouros, Verdes dessa vez: Porque tirar sempre uma nota A? Se assim fizermos, um B será derrota. Um dia desses, pule nesse espaço, agarre o céu e não volte mais, nunca mais. Seja seu. Você será de todos mais do que imagina. Viva eu, viva o mundo, viva o Chico barrigudo! Vivamos, nessa feita, nós!

Madeira

Pau-brasil um dia existiu
Na piscina bóia flor de Flamboyant
Casca de Casco-de-vaca
Cetro de Cedro
Tapume de Eucalipto
Viaduto de Sequóia
Chiclete gruda no pneu de Seringueira
Olha os ramos da Figueira
Móvel de Cerejeira
Peroba Branca o caminho atravanca
Serra derruba a Imbuia que vira cuia
Mogno, madeira dura
Pinus que risca fácil
Canela é armário que cheira bem
Ipê você pisa e não vê
Olha lá um Jequitibá
Macaco em galho de Cumbaca
Não dá uva em Cabriuva
Petia na casa da tia
Plante já um Jacarandá
Cama de madeira qualquer
Embala o homem com cara-de-pau
Impune derruba tudo
Outro Jatobá já vai tombar
Tapa o sol com a Paineira

13 de set. de 2005

Para aquele um, que tão sensivelmente devaneia

Há tempos busco inspiração. Não a espero mais, que anda tão distante de minha agitação cotidiana.

Você consegue abstrair do costumeiro, do corriqueiro, do habitual, daquilo que nem se percebe, uma excepcionalidade que torna qualquer momento em exclusivo e fundamental. Você consegue ver a poesia inerente à vida, e de tão inerente já nem percebida, ou nem percebida porque a vida moderna só pode ser feita de momentos lógicos.
É de um sabor inexplicavelmente cotidiano, com gosto de infância feliz, sentir o cheirinho de pão fresco escorregar dos seus versos. E logo adiante é a visão que se expande. A forma que você tem para expressar seus devaneios excita todos os sentidos.

Mas há devaneios interiores, que expressam sentimentos com pouco apoio do mundo sensorial. Nesses também seu lirismo é terno, mesmo quando revela angústias, distâncias, separações, solidões, perdas, dores. Nesses momentos de incerteza da alma humana as palavras normalmente se tornam rudes, amargas. Não as suas. A sensação é a de quem, mesmo sofrendo muito, não está perdido, desamparado.

Você tem lirismo, emoção, talento. Faz com que a gente não perca o sentimento, o que nos mantém humanos num mundo que nos exige cibernéticos.

9 de ago. de 2005

Náufrago

Sinto soltar-me a mão a tua
Esvair-se a alma que sequer viste nua
O corpo que jamais vislumbrei

Na taça, o resto do vinho que não provei
E com o qual me embriaguei

A enxurrada que verte do teto de telhas quebradas
Leva os restos do pouco amor que me sobrou
Lava nossos rostos sujos de vergonha
E já molhados pelas lágrimas que vertem
Da alma de sonhos quebrados

Não sei que rumo tomou a rosa dos ventos
O tempo passa fora do compasso
Parece seguir teus errantes passos

Há meia hora era dia cinco
Hoje já é dia dez
Amanhã não sei se será

Os beijos que te roubei
Hoje tem gosto de fel
Os que me deste e os que não dei
Vagam perdidos por bocas frias

Náufrago à deriva em alto mar
Espero a tormenta ir-se
E um navio que não irá passar

Nada me preenche e tudo me desfaz
Minha boca salgada balbucia pedidos perdidos
O frio adormece meu corpo
Logo a alma calma adormece
Já não quero abrir os olhos
Talvez nunca mais possa acordar

20 de jul. de 2005

Ciao, Adendo!

Isso estava no primeiro Água de Tomate, companheiro de madrugadas de vã reflexão: “Sou o menino paranóia. Quando mudei pra SBC ano passado, uma das maiores expectativas que tinha era se faria algum amigo aqui ou ficaria sozinho durante longo tempo, falando com as paredes verdes da faculdade e branco-encardidas desse apartamento. Medo tolo...”
Esse é dos poucos excertos que me sobraram depois que os arquivos foram tragados pelo buraco-negro do severo provedor. Mas isso já me faz pensar no “quando mudei pra SBC” e no agora, que já mudei de SBC. Sentia-me tão adulto assumindo algumas responsabilidades naquela época. Manter uma casa (ainda que não com meu dinheiro), me virar na cidade grande, dormir sozinho com meus medos. E tanta coisa aprendi, tantas vezes quebrei a cara.
Foi morando lá, no apartamento carinhosamente apelidado de Adendo da Capital, que fiz bons amigos, que recebi pessoas queridas, que quis enxotar os mal quistos, que me vi sozinho e miúdo algumas vezes. Foi lá que senti ser possível amar de novo, ter um grande amor, outro grande amor, e quebrar a cara, de novo. Que tudo deixa sua marca, e que podemos sempre tentar outra vez. A vida é uma construção de todo dia, na qual muda a água, mas continua o tomate. Atrasei contas, fiz amigos. “Confesso que vivi!”
E o pedacinho de vida passado ali vai deixar saudades, daquelas boas, que não torturam. Que afagam o coração. Tendemos a olhar pra trás e achar que as coisas eram melhores, os problemas menores, tão mais felizes parecíamos. Não... A Lua parece maior quando perto da linha do horizonte. Mudam os referenciais.
De lá ficam saudades de um tempo diferente. Tantas.
Devagar vou aprendendo a me sentir em casa no ap novo, que ainda não tem um nome, mas já tem suas histórias.

No Caminho de Kandahar: Advocacia – Dr. De Paula Pinto.

14 de jul. de 2005

Mais do mesmo

Da revista Caras (desculpa para ter lido: estava com a Tê no Fran’s Café de Sorocs, fazendo um de nossos incontáveis pit-stops gastronômicos, quando achamos esse fantástico relato de simplicidade): “...Silvia Pfeifer se diverte com pequenos prazeres, como descascar laranja e beber champanhe”.

Acho que estou cada vez mais capitalista. Como posso ter parado de ver o valor do momento de “descasque” da laranja, fruta assim tão cítrica, e de uma mera taça de champanhe?? Vou seguir a Tati e virar budista.

Confuso. Com frio.
Em tempo de confluências inesperadas.
Coisas.

12 de jul. de 2005

Cartas a mim mesmo

Os dias tem sido pensar e sentir; inconstantes e incontáveis. Acho que passa, deve passar. A dor serve para mover-nos. Queira Deus, para bem. Às vezes, nessas horas, descobrimo-nos pequenos diante da vida; minúsculos em sua ausência, essência das saudades. Nesse tom, a modéstia é medo; a humildade, refúgio. Para caminharmos, preciso é saber-se sem direção. Para a direção é preciso termos consciência de nossas virtudes e defeitos, limites e capacidades. Assim, humildade é via de mão dupla. Se serve para orientar, pode ajudar a perder-se. Prepotência salva o fraco, para quem apenas a resposta humilhante e devastadora basta. O verdadeiro sábio ajoelha-se para falar com a criança; lava os pés de seus discípulos; tem consciência e humildade para aprender com quem tem ensinado; perdoa quem tem ofendido; verga a força bruta com a leveza da pena; explode em energia no último e invisível momento.

O que quero dizer hoje é obrigado. Você proporcionou mudanças, mostrou verdades, abriu arquivos. Fomentou esta retomada. Seja lá o que for, pra onde for, o segredo é olhar com admiração para a imagem, ainda que cada dia mais tosca e pálida pregada na memória. Porque nem tudo é água de tomate. Alguns são caroço, e estão pra sempre no âmago.

20 de jun. de 2005

Caminho

Voltei pra casa chorando. Era vergonha, mal estar. Não poderia jamais ficar estagnado depois de ver aquilo tudo; estava certo de que faria alguma coisa.
O resto da noite foi tentar digerir os fatos e pensar em como muda-los.
Na manhã seguinte a cara de espanto era menor, mas não a indignação. Passei pé ante pé, tentando não fazer barulho, como se o horário comercial ao redor já não zumbisse o suficiente. Queria não incomodar, confiante na idéia de que dormir era a redenção, um passeio por outro mundo. Que tipo de sonhos?
Eu sonhava inquietudes.
Levei algumas roupas e distribuí umas moedas, animado por fazer tudo que estava ao meu alcance. E continuava arquitetando um plano maior.
Um dia mais e me distraí com a torre da igreja. Acabei tropeçando em um. Fiquei acabado, morto de vergonha. Como podia?! Não sou uma pedra!
Jamais vou contar isso pra alguém.
Ontem já os pulava com agilidade, numa corrida de estranhos obstáculos, admirado com minha destreza. Um, dois, cuidado com aquele. Giro para a esquerda, esquivada e cheguei.
Hoje, na correria do atraso, fiquei irritado em não poder andar em linha reta e nauseado com aquele cheiro que revira o estômago ainda vazio.
Amanhã eu me formo. Festa incrível. E eles continuam ali, emporcalhando a praça.

7 de jun. de 2005

Súdito

Antônio Abujamra não chorou quando nasceu. Queria provocar os médicos e dissociar-se do comum logo na aurora de sua carrancuda vida. E fez desse seu talento inato, a destreza para provocar com maestria, seu meio de vida. Foi um dos poucos entre seus tão ímpares pares profissionais que se sujeitou a televisão, grande referencial simbólico brasileiro. Com cara de avô ranzinza, que reclama de dores nas costas mas insiste em dormir no sofá, Abujamra capitaneia nos finais de domingo o Provocações, seu programa de entrevistas na TV Cultura.
O projeto inicial previa apenas treze entrevistas a serem exibidas durante três meses, mas para os que dizem que a qualidade na TV sempre sucumbe a bunda, agradou tanto que está há anos pondo sal em feridas abertas com a promessa de que ainda há muito cloreto de sódio no estoque.
Com ar de Tomás de Torquemada dissimulado, envolto por um cenário pálido, suportado pelo clima de Hitchcock e enquadramentos incertos, não amarra o entrevistado na fogueira, mas coloca fogo na vaidade. No programa quem triunfa é o provocado, que tem espaço e liberdade para expor idéias e responder a altura das perguntas, desde que apto a isso. Tem uma proposta que não é nova, mas é perpetuamente boa. Repelente do discurso em voga.
Da trinca de gordos que despontam no comando de talk-shows no Brasil, as diferenças entre eles salientam mais que a barriga. A irreverência de João Gordo, que prima pelo escracho sem distar da inteligência e o vazio narcisista de Jô Soares, o condutor da massa, que é graduado em auto-afirmação e projeção do quanto sabe, Abujamra segue outra trilha. e mostra sua periclitante diferença genial.
Provocações dá total liberdade para os entrevistados, sejam eles quem forem, de onde forem, com o título que tiverem. Como um "grande circo místico", provê os prometidos 15 minutos de Warhol para representantes de minorias, artistas, médicos, fãs do programa e muitos outros tipos, como mendigos, que já tiveram sua vez e espaço para se expressarem e não raro surpreendem-nos com sua provocações, dando sutis alfinetadas em nosso preconceito. Todos podem enforcar-se na corda da liberdade com nó apertado pelas mãos de Antônio. E, para entreter além dos bate-papos, textos declamados com maestria e reportagens diversas sobre os mais variados e curiosos temas.
Expoente estranhamente mendicante e glorioso desse gênero jornalístico, comandado por um niilista auto-crítico, ácido e lancinante o programa de pouca verba triunfa pela muita inteligência e pelo desconforto que não raro causa no espectador. Torna astuta e incômoda nossa macilenta televisão e provoca as (de)cadentes estrelas de nossos triviais programas de entrevistas.

2 de jun. de 2005

Por uma causa nobre

Essa é velha e já estava no outro Água, mas sempre rememoro:

Há tempos que anoto várias coisas que leio nas portas de banheiros, nos bancos de ônibus e que escuto pelas calçadas da vida. Qualquer coisa que me desperte a atenção, telefonemas estranhos, seja lá o que for. Frases captadas, impressões escritas, protestos, opiniões e diálogos do dia-a-dia.
Aqui vai um, tragicamente hilário em seu propósito:

Era uma conferência entre pessoas HIV positivo e pessoas com Parkinson. Discutiam como angariar, em conjunto, verbas para suas causas e quais as estratégias de uma campanha antipreconceito que lançariam. Até que, após algumas divergências, um senhor negro, soropositivo, lançou:

- Ah, Parkinson é doença de rico! De quem não tem o que fazer.

O idoso com Parkinson para quem a frase foi desferida retrucou, a altura:

- Olha, eu não escolhi essa doença que eu tenho. Vocês sim é que foram atrás da sua! Atráaaasss...
- E quem é que tem Parkinson e não tem dinheiro?? Olha só o Papa, leva um vidão.
- Como assim? Vidão?? E eu tenho a doença e não sou rico, muito pelo contrário! Seu viado!
- Olha, seu velho britadeira, eu te meto a mão na cara!
- Então desce da tamanca e vem! Rogélia!
- Com essa mão tremendo, o senhor serve mais pra safadezas que pra briga!

E a conversa seguiu nesse patamar até que alguém, já satisfeito com o espetáculo, pôs fim a troca de palavras de conforto. Clima estranho, a reunião acabou logo. Sem um veredicto final. Aguardemos a próxima.

E assim caminhamos. É só achar uma brecha, que vamos logo cuspindo impropérios. Salve o preconceito velado...

30 de mai. de 2005

Tempo rei

Não adianta ler em alguma poesia, em uma crônica, escutar meus pais, amigos ou ouvir qualquer sermão templo afora. São os fios de cabelo em incessante queda de minha cabeça que me apresentam intimamente ao caduco lugar comum: o tempo é inexorável. Quando algum cadente for então de cor branca, aí então terei me tornado irmão do bordão. Só me resta viver satisfatoriamente, ouvindo ao longe a mentirosa canção de acalento “é do careca que elas gostam mais”. Numa análise aprofundada, até pode ser. Fica para a imaginação de cada pensar nisso, pois, como diria meu hilário chefe: “Não contarei o resto da piada, por três motivos: em primeiro lugar, porque não é esse o objetivo; depois, por se tratar de piada provavelmente conhecida, o que lhe tiraria a graça; e, principalmente, por causa dos chamados “bons costumes”, os da Moral, que não recomendam o uso de palavrório chulo em portais de boa reputação”. Não tenho medo de ficar velho, mas me apavora não ter aproveitado suficientemente o ontem.

“Não temos de nos preocupar em viver longos anos, mas em vive-los satisfatoriamente; porque viver longo tempo depende do destino, viver satisfatoriamente depende da tua alma. A vida é longa quando é plena; e se faz plena quando a alma recuperou a posse de seu próprio bem e transferiu para si o domínio de si mesma.”
(Sêneca – Cartas a Lucílio)

25 de mai. de 2005

E a cidade

Aí vem mais um João, Maria, Zacarias
O rosto enrugado de melancolia
Nas costas o peso da vida
Barriga magra e estufada de saudades
As mãos carcomidas da lida
Os pés calejados de pedras
Quer ir para longe da seca
Fugir da miséria que o persegue
Anda para qualquer outro novo lugar
Que cruzará os braços
Para mais um qualquer filho de Deus
Afunda os pés na lama que já foi rio
Erra por terra em busca de seu chão
O seco corpo não deixa marcas nem rastros
Não há sol, nem luar
O tempo segue a cadência das entranhas famintas
Só quem faz sombra é a morte
Ceifando verdes campos de corpos desidratados
Cada passo uma fuga da foice
Guerra de todo dia em terra que não há

18 de mai. de 2005

Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte...

Sou de uma família metade protestante, por parte de mãe, e metade católica, por parte de pai. Por serem ambas muito fervorosas, cada qual para seu lado da fé, meus pais acabaram por distanciar-se de qualquer religião quando, mais velhos, puderam optar.
Por conseqüência eu cresci uma ovelha desgarrada do rebanho. Tenho fé nas coisas que acredito, muita, mas devo assumir que só recorro a ela nos momentos de dificuldades, como esperança última e raramente pra agradecer.
Mas às vezes acho que recebo indiretas do plano espiritual.
Pouco tempo atrás eu estava em uma fase turbulenta, daquelas que nos deixam bem pra baixo, de kalundum. Um dia saí mais cedo da aula e resolvi voltar pra casa da minha mãe, em Sorocaba, que é meu porto-seguro.
Cheguei lá e logo soube que era dia do velório do Eduardo Alvarenga, o dentista sorocabano que morreu no Aconcágua e era amigo da minha família. Eu só o conhecia de vista, mas cismei que tinha que ir. Não suporto velórios, nunca vou a nenhum, mas fui impulsionado a ir nesse. Sem saber direito porque.
Fui sozinho. Era na Igreja Presbiteriana Independente de Sorocaba e logo que entrei o pastor anunciou que iriam cantar um hino, “Com Tua Mão”, que é o mesmo que minha mãe cantava para que eu e meu irmão dormíssemos e que minha cabeça me sussurrava nos tempos mais difíceis da separação dos meus pais. Depois que cresci acabei esquecendo dele, que foi trocado pelo meu absolutismo, pelo bordão “eu estou bem, não preciso de ajuda”.
Sei que é pretensão, egoísmo e que muitos ali sentiram o mesmo, mas tive aquilo como um sinal pra mim. Que estava no rumo errado, que deveria sacudir a vida, levantar a cabeça, dar graças a tudo que tenho. Não sei direito. Mas foi um misto de medo e conforto, de dor e acolhimento.

Hoje soube que meu Tio Domenico (meu padrinho de batismo na igreja católica) está com câncer. Não tem como não ficar com medo quando se escuta isso. Ele me é muito querido, foi sempre muito presente e importante em minha vida. Tenho fé que ele sai fácil dessa. Se Deus quiser.

Sozinho no Adendo da Capital. Cantando. “Com Tua mão/segura bem a minha/pois eu tão frágil sou, ó Salvador (...)”

...não temerei mal algum, porque tu estás comigo.

Fotos, infância e besouros

Ontem à noite, para espantar um pouco a solidão, comecei a rever algumas fotos que trouxe comigo para o apartamento na capital. São poucos álbuns, três ou quatro, mas cada um deles traz uma infinidade de histórias. Fotos de aniversários, formaturas, reuniões de família em casa. Detenho-me um pouco mais de tempo em um deles, onde aparecemos eu e meu irmão, há tempos atrás.
A diferença de idade entre nós é de três anos e meio, sendo ele o mais velho. A vida toda nos demos muito bem. Durante anos dividimos o mesmo quarto, estudamos na mesma escola, partilhamos as mesmas brincadeiras e até alguns amigos.
Um acontecimento saltou do arquivo da memória ao olhar uma das fotos e me fez rir. Quando tínhamos entre cinco e onze anos, éramos grandes aspirantes a biólogos. Uma de nossas várias experiências genéticas com animas (formigas, grilos, mosquitos...) era congelar besouros em potes com água no freezer, esperando que ao descongelarmos os pobres animais eles pudessem voltar a viver normalmente. E tenho claro em minhas lembranças que um deles deu um pequeno passo, embora meu irmão insista que o movimento foi causado pelo gelo que derreteu.
Outra coisa curiosa é que sempre que víamos um besouro virado com as patas para cima (eles são como tartarugas, não conseguem se virar), com muito cuidado nós o colocávamos na posição certa. Todas as noites, diversas vezes. Paramos com nossas experiências, crescemos, tivemos que separar um pouco nossas vidas, mas até hoje, quando na casa da minha mãe, continuamos desvirando todos os besouros do caminho. Podemos estar prontos para sair, com pressa, seja lá o que for, que paramos para socorrer os pequenos animais. Acabamos contagiando alguns outros membros da família com nossa ação. Minha mãe e minha prima, embora com menos entusiasmo e mais nojo, com a ponta do sapato, fazem o mesmo.
Não sei quando foi que isso começou e tampouco sei ao certo porque fazemos (talvez para nos retratar após os congelamentos), mas já devemos ter salvado vários ao longo desses anos. É sempre frustrante encontrar algum deles morto pela manhã.
Será que um dia meu filho (será que vou ter um filho?) terá a mania de salvar besouros de seu trágico destino de morrer chacoalhando as pernas viradas para cima?

13 de mai. de 2005

Uma noite no semi-árido

Saio exausto do trabalho, irritado com a brutal diferença de temperatura entre meu agradável escritório e o chuvoso frio se São Paulo. No aglomerado de carros da Marginal Pinheiros não há outra coisa na qual pense senão no aconchego de meu apartamento, longe dos problemas e barulhos capitais, onde posso descansar e esquecer a agitação cotidiana.
Estaciono o carro na garagem, subo e vou direto saciar minha latente vontade de ir ao banheiro. Aliviado, aperto a descarga. Nada acontece. Aperto outra vez, mais uma, e nada. Vou lavar as mãos na pia. Também não funciona. Corro para o tanque da lavanderia, meu último reduto e, surpresa, nada de água!
O porteiro interfona para avisar que o prédio ficará sem água até amanhã, para que seja feita a manutenção da caixa d´água. Diz que tentou me avisar antes, mas eu não estava.
Cansado e furioso, lembro ironicamente que hoje é Dia Internacional do Meio-ambiente. A manchete do jornal sobre a mesa rememora a suspensão, em fevereiro, de gastos no Orçamento do Governo Federal, que paralisou as obras do Proágua Semi-árido, deixando dez Estados à espera de recursos. Vivo uma noite de semi-árido em plena terra da garoa.
Algumas horas sem água já bastam para desestruturar todo meu desejado descanso. Meu egoísmo traz outra lembrança: 1,1 bilhão de pessoas não tem acesso a água potável e 2,4 bilhões não têm acesso nem ao saneamento básico. Dados do jornal. E eu aqui, praguejando minha má sorte.
As mãos sujas, navegando pela internet, o cheiro vencendo a barreira formada pela porta do banheiro e se alastrando pelo apartamento. Algumas horas, uma noite, a geladeira cheia de bebidas. Do que reclamam os que não têm sequer água para beber e vêem seus filhos brincando no esgoto que corre aberto logo ao lado de sua janela, com o feijão acabando em pleno dia 10?

12 de mai. de 2005

Ando macilento. Bicho-preguiça. Minha cabeça acreditou nas milhares de inconscientes promessas de fuga que faço a todo instante e achou que eu não voltava mais. E aqui estou, atirado no cotidiano. Mas foi muito boa a ligeira “fugere urgem”. E retoma-se a vida.

O homem que falava Javanês: Não é que o clone do Papa fala um Português engraçadinho? Todo ensaiado, com aquela cara de avô. Momento ternurinha.
E ele tanto quer ser o João Paulo III que ta andando sem o Papa Móvel GTI Turbo pra ver se toma um tiro.
Em comum com o Brasil tem o fato dele dar aquela risadinha rosnada igual a do Beto Lee. Parecem parentes. A benção, Chico XVI, nosso povo te abraça...

Propaganda institucional: Ele começou do nada, em um ateliê de fundo de quintal. Abriu sua primeira loja. Ficou famoso em seu país natal. Cuspiu nos compatriotas e foi brincar na França. Comandou a Maison Lanvin, por um ano. Fracassou. Saiu fugido, endividado. Voltou para sua terra. Ficou quietinho. Fez uma amiga, abriu dúzia de lojas super chiques. Estardalhaço. Durou oito meses. Perdeu a amiga. E as lojas. Mas ele vai tentar de novo! Porque ele é Ocimar Versolato, brasileiro, e não desiste nunca!

Por último, e já meio velha: Estava assistindo o especial de 40 anos da Rede Família Globo, quando exibiram um vídeo no qual aparecia o Cid Moreira, com toda aquela cara, perguntando para o Mister M: “Aaaah Mister M, paladino mascarado, você é espada?”
O que fez o hábil editor? Cortou a cena para a Zebrinha (aquela, bem velha, que anunciava o resultado de loteria) dizendo: “Coluna do meio!”.
Impagável.

E é isso. Vou pôr o que sobrou do meu cérebro no formou. A cabeça toda, assim o cabelo fica bom também.

Abraço!

27 de abr. de 2005

“Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas
essas ficarão”

Carlos Drummond de Andrade

E aqui estou eu, ainda outra vez.
Abraço!