12 de nov. de 2013

Os Marleys e a gente

Chegamos a ter quatro Pastores Alemães convivendo conosco ao mesmo tempo na casa de minha mãe, no interior de São Paulo. O quintal era imenso e, para uma criança nos seus cinco, seis anos, era quase como dividir uma floresta particular com imensos e velozes animais. Tilim, Bruna, Ceci, Lion. O casal Tilim e Bruna teve seis ninhadas, o que me fez acompanhar várias vezes a gestação, o parto e perceber como uma cachorra lida com sua prole (Pacato e Lela são dois outros dos quais lembro bem). Além dos Pastores, tive um Cocker malhado, tenho uma vira-lata caramelo e minha mãe tem um Beagle grisalho.

Dois deles deixaram passagens intensas. Lion ficou conosco durante 15 anos, 15 sensacionais anos. Tempo suficiente para invertermos, em iguais proporções, a graça e alegria que ele nos deu no auge de seu vigor com o cuidado, carinho e atenção que demandou em sua velhice. Ele foi um grande companheiro, inteligente e safado como esperamos que todo cachorro seja. Velhinho, dormia durante longo tempo com a cabeça em meu colo, enquanto eu espantava os mosquitos que tentavam atrapalhar seu sono e fazia carinho em seus já desbotados pelos.

Uma noite, meu irmão e eu o encontramos deitado no jardim, fraco e muito ofegante. Tentamos animá-lo com leite, seu alimento favorito, com carinho, até que percebemos que ele só queria alento e companhia para que pudesse partir. Cerca de uma hora depois, percebendo seus olhos inquietos e em busca de algo, resolvemos chamar minha mãe, que estava dormindo. Um pouco assustada, ela se juntou à nós, fazendo cafuné em sua barriga e dizendo-lhe que ficasse em paz, que ele havia sido uma imensa alegria em nossas vidas e que era hora de descansar. Lion deu um suspiro longo, foi esmorecendo, fechou os olhos e relaxou as patas. Recolhemos sua coleira e, na manhã seguinte, o enterramos sob as bananeiras, bem perto das folhas de capim-cidreira nas quais ele adorava se coçar e se aninhar.

Quase dois anos depois, adotei um cachorro que encontrei nas ruas. Quando recuperado e em dia, pudemos ver que era um Cocker. Meu Bolacha. Seus pelos compridos, quando perto da hora do próximo banho, viravam um insolúvel emaranhado de folhas, galhos e demais coisas enroscadas ao longo de suas andanças pelo quintal. Ele era uma animação só, bobão e companheiro. Diferente do Teco, o Beagle, gostava de ficar deitado comigo na rede, balançando, nos finais de semana de descanso. Ele ficou doente e internado por bastante tempo, até que precisou ter sua vida abreviada. Eu nunca havia passado por um momento assim. Levamos ele de volta para a casa, para que ficasse conosco em sua última noite. Teco deitou ao seu redor de uma forma que parecia abraçá-lo. Ganhou muito carinho. No dia seguinte, fomos ao veterinário e me despedi, com o coração miúdo e uma confusão de sentimentos. Corri para um colo e para ser abraçado. Bolacha foi enterrado pertinho do Lion, e o Teco passou noites seguidas dormindo ali.

Hoje, essa dupla, Lion e Bolacha, está recepcionando uma pequena Poodle com nome de cantora teen, para que possam correr pelo infinito campo no qual os imagino. De cabelinhos brancos arrepiados, roupinha e um pouco trêmula, ela chega para contar toda a vida que dividiu com um menino aqui na terra, desde pequenos até hoje, um tempo bastante diferente e numa fase de tantos capítulos adultos, mas cujas lembranças e alicerces ainda justificam que ela se chamasse Sandy.

16 de set. de 2013

13 de set. de 2013

50 anos em 5

Vamos fazer um plano de metas e fincar na geladeira e no coração. Quem errar, paga uma prenda e lava a louça.

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26 de ago. de 2013

Diálogos pop rock

- I'm still standing where you left me. Are you still growing wild?
- I guess that I forgot I had a choice.
- You trade your passion for glory. Don't lose your grip on the dreams of the past.
- I'm crying here, what have you done? I thought it would be fun.
- I'm lying here on the floor where you left me. I think I took too much.
- Scared to rock the boat and make a mess.
- Went the distance, now I'm back on my feet.
- I stood for nothing, so I fell for everything.
- Get ready cause I’ve had enough. I see it all, I see it now. I got the eye of the tiger.
- I'm cold and I am shamed, lying naked on the floor.
- I'm all out of faith, this is how I feel.

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24 de ago. de 2013

Toutes Nos Envies

- Está gelada!
- Sim.
- Você está tremendo.
- Mas estou gostando. Bom como o mar, não?
- Ah, sim

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- Por que não tem um site, talvez?
- Sim, é uma idiotice. A venda dos jornais impressos caiu em 30%.
- Estão competindo contra vocês mesmos.
- Não, os grandes portais é que estão nos machucando.
- Estão nos destruindo.
- Quem quer café?

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- Por que não veio hoje?
- Tive um dia insano.
- O meu pareceu longo.

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23 de ago. de 2013

Recortes da semana

Você é uma cidade?
"(...) Você poderá voltar às mesmas ruas muitas vezes, deve fazê-lo na verdade, mas nenhum outro momento terá a surpresa daqueles instantes iniciais, quando os nossos olhos são puros e o nosso coração é virgem outra vez. Pode-se amar uma cidade a vida inteira, mas é impossível descobri-la duas vezes.

(...) temos de ser descobertos, nomeados e mapeados. É pelo olhar amoroso do outro que nos revelamos. É no olhar do outro que nos re-conhecemos. Como uma cidade. Um país. Um mundo que o outro queira habitar – e transformar em sua casa
."

Lost in Translation: Molly Ringwald, a garota de rosa-shocking relembra época em Paris
"(...) Vendi minha casa, guardei meus móveis num depósito e coloquei o que restou em sete malas. Ao desembarcar na capital francesa, aluguei um estúdio na Rue de Montpensier, que contorna o Palais Royal – Didier Ludot, o rei do vintage na cidade, acabara de inaugurar seu brechó logo abaixo do meu apartamento. Não demorou muito para que me apaixonasse – primeiro por Paris; depois por Henri.

(...) Fiz minha família cruzar as pontes do Sena inúmeras vezes, enquanto recuperava memórias. 'Por que estamos aqui?', minha filha perguntou quando caminhávamos pela Pont Marie. 'Porque', lhe disse, 'foi aqui que a mamãe cresceu
'."

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         Dos momentos mais lindos que já vivi em Paris

22 de ago. de 2013

Fui ao Orkut e resgatei um testimonial

"Lucasof é um menino-homem travestido de ditador mexicano que, apesar de toda a sua experiência e maturidade, persiste em esconder seus medos e sua fragilidade por trás de lindos olhos azuis. É tão genial que consegue construir uma imagem de 'cara insuportável', mas logo se contradiz, quando deixa seu lado moleque-palhaço a solta. Filosofa e chora e canta e ri e abraça e pede colo. No fim, sempre tira de mim uma expressão de 'ooooown, que fofo!', que eu odeio. Passou de chefe a conselheiro e ganhou um status incrível no meu coração.

Só posso dizer que hoje, 1 ano e meio depois de ter te conhecido, sorrio ao lembrar de cada conversa, cada bronca, cada piada, cada Skittles... E carrego por todos os cantos daquele prédio na marginal, as tuas últimas palavras, no meu dia de despedida da Rua Amauri. Você, Lucasof, é foda!"

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Obrigado, Alininha! =)
Direto "daquele prédio na marginal", o qual dividimos por pouco tempo, infelizmente. 

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"(...) Lo importante no es entrar
en todas la casas, sino no estar
totalmente afuera de ellas (...)"

21 de ago. de 2013

The Sessions

- So with her gentle fearless heart, she took me in. I thrived in her garden and wanted more. There was no escaping it. A door had opened which I could not close, and in invisible writing it said: "Do not enter".

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- Why you call it a dick instead of penis?
- Penis sounds like some vegetable you don't want to eat. Dick sounds like what it is.

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- But why go to Germany? It's the only place in the world where humor is forbidden.
- You could always make me laugh. I love you, Mark. I really do.

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- What happens when...
- What happens when what?
- When people become attached to each other.
- What people?
- Just people. What's the chemistry of it all? When people are attracted to each other.
- Are you attracted to me?
- Oh, no. We're just talking hypothetically.
- Hypothetically, they write poems, they have sex.
- And what happens next?
- After poetry and sex? Nothing or everything. The rest is by negotiation, as it were.
- What do you mean?
- I mean, you can just leave it at love and attraction, or you can make things complicated, as most people do.
- Have you?
- Oh, yes.

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- No, no. Please make the little speech. I'd love to hear it.
- Ok, fine. Here it goes. The meaning of love. Love is a journey.
- I like it already .
- That's it. That's all of I've got. I told you it's short. Love is a journey.

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19 de ago. de 2013

Inferno, canto XXXIV


Fôlego renovado e prenúncio de alegria para a próxima parte da jornada.
 
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Obrigado, Marcelo. =)

14 de ago. de 2013

Minha garganta pede um pouco d'água e os meus olhos pedem teu olhar

Nunca gostei de performances artísticas. A última que me abocanhou, à força, foi durante um passeio na Tate Modern. Adoro o lugar, embora não entenda metade do que está ali contido, mas não queria ter vivido a experiência de ser envolvido por dezenas de pessoas correndo, ávidas para confessar algo ao primeiro estranho passante. Eu. Ouvi o relato de um rapaz dizendo ficar constrangido por saber que seus pais, 81 e 83 anos, ainda faziam sexo. Obrigado. De nada. *sai correndo pela rampa*

Nos tempos em que achei que deveria entender sobre artes - ah, a juventude -, conheci, em texto e imagem, Marina Abramović. Li sobre sua performance com o então companheiro de relacionamento amoroso e peripécias, Ulay, na qual ela se inclinava para um lado segurando um arco e ele se inclinava para o lado oposto, segurando uma flecha tensionada no arco e apontada para Marina. Medo, desafio, confiança. Parecia válido e cabível até levar uma flechada, caso algo não corresse como esperado ou alguma rusga viesse à tona, vá saber. Seria arte, imaginei.

Li sobre a caminhada dos dois na Muralha da China. Passaram oito anos negociando permissões e estudando-a "como uma estrutura metafísica, uma réplica da Via Láctea na terra". Iriam sair de lados opostos e encontrar-se no meio, onde casariam. Quando estavam com tudo pronto, no entanto, o romance entre os dois havia esmorecido. Iniciaram sua andança. Ele partiu do deserto, o lado masculino, ela, do mar, o lado feminino. Essa foi a última performance deles como uma dupla.

"Each of us walked two and half thousand kilometers to meet in the middle and depart from each other, and continue working as a single artist. It was very dramatic and a very painful ending". Achei oportunista.

Agora, neste 2013, circula nas redes sociais on-line um vídeo de Marina reencontrando Ulay, 25 anos depois, em uma nova performance solo no MoMA, que recebia uma retrospectiva de sua carreira. Assisti repetidas vezes, a cada nova postagem em minha timeline, cada hora com um comentário, cada hora despertando um sentimento em algum amigo ou (des)conhecido. Uns sabendo quem eram os dois, outros apenas falando sobre o amor entre duas pessoas que se viam após tanto tempo separadas.

Ele ajeita as calças ao sentar, pés com All Star de cano alto. Ela levanta o rosto, tenta segurar uma cara de surpresa ao ver quem está ali (ainda que soubesse, tanto faz). Ele sacode os ombros, suspira. Ela chora e soluça, quebra a imobilidade prevista na peça e inclina-se, mãos percorrendo a madeira da mesa em direção a Ulay. Ele sorri, com certo alívio. Encontra as mão dela e diz algo que nunca tentei decifrar. Os espectadores aplaudem. Ele sai, ela limpa o rosto.

"O amor acaba. Numa esquina, por exemplo". O amor termina ao descer de um carro, numa performance qualquer. E seu eco é ouvido num museu décadas depois.

Os ultramodernos, os maestros do líquido, agora dizem que "estão" popularizando demais a arte de Marina, tão admirada por Lady Gaga (rememoremos o porquê do pseudônimo da cantora). Que a estão banalizando; "orkutizando" é o termo. Bom mesmo são velharias - ou novidades ininteligíveis - trancadas em grandes construções, ao alcance de poucos. Esquartejamos Danuza Leão quando disse algo similar sobre pessoas de todas as classes sociais poderem ir ao exterior.

Pois que a banalizem, que falem dela até a exaustão, que repercutam o vídeo. Que todos possam ter seus quinze minutos de performance. De releitura do vento, de se pintar com açúcar e se lamber. Que todo mundo possa amar de um jeito exibicionista, terminar em espetáculo e reaparecer feito ectoplasma no museu. Até quando? Até querermos de novo. Mais.

Queria eu ter percorrido toda a Muralha da China para desfazer-me aos poucos da bagagem, guardar a memorabilia e limpar o cômodo pelo caminho.

Que a gente não faça do amor uma arte metida a besta e trancada num museu. Orkutizemos, por que não? Conhecer coisas não nos faz melhor que ninguém. Ter com quem dividir uma interpretação e conversar talvez nos engrandeça. Ter para quem mostrar, de quem receber um direcionamento para o olhar.

"Ignition sequence start", digo, para mim mesmo, imitando em minha cabeça o forte sotaque sérvio de Marina.

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12 de ago. de 2013

Help!, dos Beatles


1. But every now and then I feel so insecure, I know that I just need you like I've never done before.

2. Last night is the night I will remember you by, when I think of things we did, it makes me wanna cry. We said our goodbyes.

3. Here I stand head in hand, turn my face to the wall. If she's gone I can't go on, feeling two foot small.

4. Oh yes, you told me, you don't want my lovin' anymore.

5. For I have got another girl. You're making me say that I've got nobody but you, but as from today, well, I've got somebody that's new.

6. You're gonna lose that girl. If you don't treat her right, my friend, you're gonna find her gone.

7. The girl that's driving me mad is going away, yeah. She said that living with me was bringing her down, yeah. She would never be free when I was around.

8. We'll make a film about a man that's sad and lonely, and all I gotta do is act naturally.

9. It's only love and that is all, why should I feel the way I do?

10. 'Cause you like me too much and I like you.

11. If you let me take your heart I will prove to you, we will never be apart if I'm part of you. Open up your eyes now, tell me what you see. It is no surprise now, what you see is me.

12. I've just seen a face, I can't forget the time or place where we just met, she's just the girl for me and I want all the world to see we've met.

13. Yesterday love was such an easy game to play, now I need a place to hide away.

14. Come on, Miss Lizzy, love me before I grow too old.

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     Amor à flor da pele - Fa yeung nin wa

8 de ago. de 2013

BRAVO!

"Há despedidas que não encontram tradução. O que falar diante de um amigo que se muda para bem longe, um amor que morre, um projeto querido que se interrompe? Às vezes, o melhor - o mais preciso e eloquente - é dar adeus em silêncio."

Armando Antenore

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7 de ago. de 2013

Breve tempo verbal

- Nunca vi esse filme.
- Vê comigo.
- Esse seu jeito de falar... Prometo vê-lo com você.
- Que jeito?
- Conciso e imperativo, sem ser incisivo.

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6 de ago. de 2013

Caleidoscópio

A aproximação foi via amigos em comum na faculdade, mas não consigo recordar se houve um momento específico depois do qual estreitamos ou se foi uma evolução natural da espécie.

Um ano após a formatura, em 2007, falei sobre você. Era um testemunho no Orkut - bons tempos - no qual grifava aspectos divertidos. A síntese era uma menina que habitava um mundo "Rock & Roll hype vintage hypercool", seja lá o que isso signifique, e me ensinava que "amizade não é sufoco e silêncios podem ser cúmplices, não constrangedores". Já era linda aos meus olhos e ao meu coração. Amiga lá de longe, da beira da capital, e nas caronas de ida e vinda sempre aproveitei para dividir pedaços de mim. Talvez você seja a primeira-dama do Cibié.

Agora você mora perto, posso ir andando. E como fujo para sua casa! Com paredes de chita colorida e quadros de viagem, cinema e rock. E, sim, com um terracinho todo seu. Gosto de saber que sou parte disso. Gosto de poder achar que estou cochilando escondido enquanto vemos filmes, e que você vela essa soneca porque sabe que, nesse momento, é o que preciso além do seu abraço. Em troca, aceito dividir a pipoca no cinema.

Quando não trabalhávamos juntos, ia de São Bernardo até a Casa das Rosas para passar tardes com você e Lemp, comendo cocada e falando besteiras.

Viajamos. Desde o planejamento de longas viagens, tentando encaixar 153 lugares e afazeres em 30 dias de férias, até fugas rápidas para a praia ou indo aos shows de bandas de nossa adolescência.

Você me leva ao estádio para os jogos do Corinthians, ao samba, dança minhas músicas, cantamos juntos caminhando pelo bairro. “Quando piso em folhas secas”. "We came to far to give up who we are". "Ela tá dançando e o pimpolho tá de olho". Elogia a bricolagem, embora nem sempre confie de primeira nos meus feitos. Diz que sou forte quando carrego coisas pesadas, me faz dançar forró e diz que dancei direitinho. Não pelo peso ou pela força, pelos passos corretos ou pelo ritmo, mas pela graça.

Sabe meus maduros e meus podres. E dá broncas! Você me desarma. Faz com que eu entenda a vida, meus pais, meus amigos, meu irmão. Meus irmãos, talvez. E quão importante é entender algo antes de alguns sentimentos.

Não sei mais imaginar um dia sem pensar que você será parte dele. Se não imediatamente ao lado, nas mensagens, nas ligações, nas ideias. Tenho a sensação de sermos infinitos. Todavia, caso o mundo físico se altere, você vai continuar para sempre a fazer parte da minha existência, disso estou certo. Em meus pensamentos, em minha pele, em minhas palavras e em meu coração.

Você é um terremoto que bota tudo no lugar e me dá fôlego. Você me salva dia após dia durante tempestades e engrandece meu sorriso quando não estou envolto em besteiras.

Obrigado. Te amo.


     Desde 2003, a gente só fez foi ficar cada vez mais lindo. =)

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2 de ago. de 2013

Nada ficou no lugar

Eu estava com medo de ter falado demais. Eu estou aprendendo a lidar com a imensa exposição gerada pela honestidade. Com toda a insegurança. Eu estou reaprendendo a caminhar. Eu tinha saudade da sua voz.

A reposta veio em forma de canção na manhã de uma noite muito cansada.

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"(...) Eu vou derramar nos seus planos
O resto da minha alegria (...)"

29 de jul. de 2013

Amour

- Eu estava com vergonha de chorar na frente dele, mas foi impossível segurar. Fiquei ali, às lágrimas, no pátio, e contei o drama até o fim.
- E depois? Ele reagiu como?
- Não faço idéia. Com certeza ele riu da minha cara. Eu não me lembro. Também não me lembro do filme, mas eu me lembro do que senti. Eu tinha vergonha de chorar, mas, ao contar tudo de novo, a emoção voltou. Talvez mais forte ainda do que enquanto eu via o filme. Eu não consegui segurar.
- Que bonitinho. Por que nunca tinha contado isso?
- Tem muitas histórias que eu ainda não contei.
- Você não quer manchar sua imagem agora que está velho?
- Qual é a minha imagem?
- Você é um monstro, mas é gentil.
- Vou lhe oferecer mais vinho.

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- Imagine se estivesse no meu lugar. Nunca pensou que isso poderia acontecer comigo também?
- Sim, é claro. Mas a imaginação e a realidade tem poucas coisas em comum.

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22 de jul. de 2013

S - Man of Steel

- They say it’s all downhill after the first kiss.
- I think that only applies if you are kissing a human.

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"Nos outros filmes ele sempre foi um humano com poderes a mais. Agora ele é um alienígena tentando parecer humano, isso é genial"

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19 de jul. de 2013

A alma viaja com a velocidade de um camelo

Não sei se você já assistiu ao lançamento de um ônibus espacial. Estão na base, juntos, o ônibus, o tanque externo e dois foguetes propulsores, acoplados como uma coisa única, dependentes. Ao redor, muita expectativa. Protocolos precisam ser seguidos, uma extensa lista de tarefas precisa ser cumprida, várias pessoas de olho. Na parte inferior da imensa armação metálica e dos braços mecânicos que sustentam o conjunto, nota-se o momento da ignição.

10, 9, ignition sequence start, 6, 5, 4, 3, 2, 1, 0, all engines running. Liftoff!

De perto é uma grande explosão, calor e fumaça. De longe, um pontinho ascendente com um arqueado rastro branco. Em poucos segundos, dois foguetes ficam para trás e caem no mar. Em órbita, o tanque vai para um lado, o ônibus espacial segue sua rota. Estiveram juntos e dependentes o tempo necessário para a subida, complementares. Agora seguem destinos diferentes e separados, mas ambos estão no caminho certo, pois podemos olhar isso de qualquer ângulo, sob qualquer ótica, girando o mapa estelar como bem quisermos. E só foi possível chegarem ali porque estiveram lado a lado, cumprindo uma missão.

É um momento bonito, de ansiedade, mudança, energia, explosão, rompimento de barreiras, descobertas.

Sobre nós, naves loucas, aqui, da terra, é característico pensarmos que somos os únicos com determinado sentimento. Ninguém ao nosso redor está nessa sintonia, o que nos torna um pouco marginais. Grande mentira.

Não é com alegria que a recebo, dizendo, com um sorriso, que estarei sempre aqui (não neste blog, mas ao seu lado) para o que quiser ou precisar, sejam conversas, silêncios, colo ou excessos.

Imaginei que ao longo da vida evoluiríamos para tranquilidade ou situações sob controle, mas não é bem assim. Tenho dias de intensa melancolia e sequer consigo explicar o motivo. A parte válida é que parecemos manter uma boa qualidade física. Tudo bem termos encontrado uma metade de laranja e não sabermos se é lima ou pêra. Vamos de uva e kiwi para nos divertirmos. Será uma sombreada natureza-morta de Caravaggio, até a vida retomar a fase de alegria espontânea e noites estreladas de Van Gogh.

A gente vai se doutrinando a depender de pouco, a encontrar conforto em nós mesmos, para depois agregar coisas ao redor, o contrário do ônibus.

Você vai achar que isso é um monte de baboseira vazia e que estou inventando, mas, como já te disse, passa. Demora, é ruim e, em parte, um grande exercício, mas passa.

Para acelerar, a única saída é se forçar a novos hábitos, ocupar todos os momentos com qualquer coisa, até criar uma rotina nova e viver cercada de amigos.

Assiste-se a uma porção de filmes, chora-se com um monte de músicas. É um aprendizado. Entortei três namoros para tatear a necessidade de estarmos bem e seguros sozinhos para depois dividirmos uma vida, ou depositaremos valores errôneos em outra pessoa e cobraremos juros impagáveis.

Não somos sozinhos em um relacionamento. Vale buscar ajustes, mudança, crescimento, mas não vale muito tentar colocar marcos e características.

O tempo vira a gente do avesso. Parece mágica, parece piegas, mas eles estavam certos. O tempo rouba os anéis de Saturno e traz juízo. E com as coisas que não passam, como alguns sentimentos, a gente vai ganhando serenidade pra saber lidar, driblar, seguir.

Dá muito medo o terreno desconhecido e incontrolável, até que você vai entendendo que não tem a rédea, mas pode descer do cavalo e caminhar ao lado dele. E que o medo é um mix de vários outros sentimentos embalados para viagem.

Não bata de frente quando os momentos pegarem pesado. Mande um pivô ao melhor estilo Luiza Brunet e corra para a minha casa. Tenha um colchão itinerante e antiácidos. Para balancear, não fuja de vez da solidão. Como diz Contardo Calligaris, ela “é a condição do diálogo moral de cada um com sua consciência”.

Estamos bem. Estamos prontos para a próxima decolagem.

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15 de jul. de 2013

Adolescência

Pudesse eu ter nascido em seu mundo, andar livre pelas hoje escuras ruas de seu tortuoso e escondido coração. Soltar-me da razão e ser só sentimento, render-me a imaginação. Pudesse viver com você em um constante exílio, dizer bobagens ao pé do ouvido, dançar tudo o que não sei. Pegar no sono deitado ao seu lado em um sofá perdido no tempo, passear, rir, render-me, me perder em você. Pudesse eu saber você.

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Andre Kertesz - Art Fair, painting of reader

14 de jul. de 2013

That was never a comedy for me


"Because I think I am an interesting woman when I look at myself on screen and I know that if I met myself at a party I’d never talk to that character because she doesn’t fulfill, physically, the demands that we’re brought up to think women have to have in order to ask them out.

There’s too many interesting women I have not had the experience to know in this life because I have been brainwashed.

And…That was never a comedy for me.”



12 de jul. de 2013

Celeste and Jesse Forever

- She’s dumb, right?
- Oh, no, not dumb. Simple.
- Simple means dumb.
- No, actually, simple in a really elegant way.
- Elegant??
- I thought you would be happy for him.
- I am, I just didn’t realize that Monica was “elegant".
- Veronica. And you know what? You would probably really like her.
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- And you’re right. Now what?
- What do you mean?
- Well, do you want to be right or do you want to be happy?
- Listen, Yoga, I don’t want to be right, I know I'm right. People will let you down and I’ve accepted that fact, but knowing that makes it impossible to be happy. But at least it’s fucking real.
- No one has ever given a more self-righteous monologue wearing only a trash bag.
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- You know what your problem is? Contempt prior to investigation.
- I'm sorry?
- You think you are smarter than everyone and that is your dark little prison.
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- I’m trying to change.
- Well, you never changed for me.
- To be honest, you didn’t really let me.
- Wow. All I did was wait for you to grow up! I rooted for you, I fucking paid for everything, I did everything for you!
- Yeah, and I was never your equal. And you know what? I think you preferred it that way.
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- It's beautiful.
- I thought you hated it.
- Yeah, well, I’ve never seen it at night.
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- You deserve to be happy. And I want that for you, always.
- Me too.
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Sometimes the end is just the beginning.
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10 de jul. de 2013

Gavetas

- Preciso dar um jeito na minha relação com você. Preciso organizar tudo esse ano.
- Esse ou este ano?
- Não estou brincado.
- Eu gosto dessa ideia de organizar tudo este ano.
- E você está na lista.
- Me organiza.

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1 de jul. de 2013

Paris-Manhattan

- E a sua loucura? Eu não sei nada sobre você. Mas ela deve ter sido muito sacana.

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- Onde você está?
- No banheiro. Por quê?
- Já leu "Belle du Seigneur"?
- Já chega, estou indo.
- Chegue logo.

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- Aos 15 anos, achava que Cole Porter era uma marca de jeans.
- Sério?
- Ele me contou a verdade.
- Que verdade?
- Aquela que se pode tocar de olhos fechados.
- Entendi.

27 de jun. de 2013

Um evento cotidiano

- Vocês ficaram noivos?!
- Sim!
- Uau! Parabéns! Quero saber a receita dessa amarração aí!
- Ih, rapaz, é muito simples. Memória fraca e muita risada. Ajuda pra caramba!

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26 de jun. de 2013

A parte mais fácil

O exercício de nos imaginarmos adultos. Tudo parece distante e, honestamente, não tão difícil de alcançar. A folha está em branco e a cabeça explode em traços e cores.

Firmei que aos trinta seria um cara casado, com carro, casa, trabalhando em um determinada empresa. A casa cheia de amigos e isso seria a plenitude. Assim pensava faz uns dez, quinze anos. Tenho a casa, o carro, trabalho nessa empresa; os amigos vêm sempre que as agendas permitem. Tive longos namoros, não me casei. Pulei um monte de etapas do plano inicial, não fiz um monte de coisas, errei bastante. Machuquei bastante. Perdi oportunidades. Viajei pra caramba. Mudei. A parte complexa acontece agora, em que estou entendendo que mudei.

Desdobrei a folha e estou olhando com olhos franzidos. Evoluir em cima dessa mesma? Rabiscar por cima de planos tão honestos e cheios de juventude? Jogar fora e pegar uma nova? "Meet me in Montauk", suspiro.

Sobre mudança e cabelos, uma vez a amiga Adília, com madeixas que concorrem como as mais elegantes do mundo, disse a receita:

"Aos 15, pinte o cabelo de azul e compre uma mochila que combine
Aos 20, esqueça o cabelo e mantenha-o amarrado num rabo de cavalo
Aos 25, faça permanente, para se despedir dos cachos
Aos 30, levante o queixo e solte as madeixas
Aos 35, corte o cabelo bem rente, pinte de cor de cobre, a correria exige coisas práticas
Aos 40, brinque de luzes, faça chapinha hoje, escova amanhã, perca tempo
Aos 45, chanel, para curtir a elegância
Aos 46, na noite de ano-novo, prometa a si mesma que não vai mais pintar o cabelo, raspe a cabeça com máquina 4 e encontre um cabeleireiro que ouse ajudar você a se reinventar…"

Eu acolhi os cachos aos 25 e levantei o queixo aos 30, questionando os fios que branqueiam em velocidade acelerada. É importante nos reinventarmos. Encontrarmos novos significados para partes, despedirmo-nos de outras, fincar algumas decisões. "To everything there is a season and a time to every purpose under heaven". Tudo bem, eu sei que sou um pouco repetitivo com esses versos.

Gostava da música dos Byrds antes mesmo de ter lido Eclesiastes. Nunca fui um menino da Bíblia, sempre fui um cara de fé.

Mas há um tempo em que um homem não é uno. Seus vícios e virtudes estão em descompasso e as mãos agem com intensidade de pés. O mundo perde as referências e, por reflexo, ele reage por acúmulo e explode. Há um tempo de entender. Há um tempo de se arrepender, refazer. Haverá a idade das coisas leves. Haverá a unidade e o amor.

Aos trinta, pegue uma garrafa de vinho, entre no metrô, desça na estação Trocadéro e peça alguém em casamento em frente à Torre Eiffel. Não interessa onde isso vá desaguar, um momento infinito terá sido vivido. Uma nova tatuagem terá sido feita. Um novo desenho adicionado na folha. Nada poderá mudar aquela pausa na existência. Mesmo que seja o tempo de encontrar outros significados e ter uma longa noite de sono para renovar os sonhos até alguma outra idade.

O cabelo, agora, está vermelho. Estou voltando de mais uma viagem. Duas, talvez, já que regresso à Terra depois de alguns dias brincando de Neil Armstrong. If you believe they put a man on the Moon.

Memórias e vontades. A página está cheia de coisas e de espaços.


21 de jun. de 2013

#VemPraRua

- O PM mais gentil das manifestações foi o que disse "espera só um pouco aí, grande" pro meu 1,70 de altura.

- "Estamos revendo Jabor, não pode Caco Barcellos. Só passa Jô Soares até segunda ordem", dizemos, a geração hostess de protesto.

- É permitido frequentar festas juninas durante a temporada de protestos?

- "Não era spray de pimenta, era água termal Vichy", justifica PM.

- Um povo herói cobrado e retumbante.

- Depois das bombas de gás vencidas e uso abusivo de spray de pimenta, PM é flagrada espirrando Karina Hair Spray em manifestantes.

- Amo demais quem fala "passeada". Essas pessoas me representam.

- Leida curandeira: cura gay em 3 dias, desfaz trabalho de obsessão, faz amarração amorosa, declaração de IR e massagem relaxante.

- O que diria Lina Bo sobre o vândalo livre do Masp?

- A gente tava chamando de baderneiro, aí descobriu que a moça Maria Baderna era a italiana musa da umbigada e migrou pros vândalos.

- "A Dilma demorar a se pronunciar sobre as manifestações é igual a rainha ter demorado a falar sobre a morte da Lady Di"

- Senti falta de 3 coisas na fala da Dilma:
1. Se ela falou só pelos R$ 0,20
2. Qual o melhor cartaz
3. Que capitulo de Game of Thrones ela tá

- O que será que Niemeyer diria do povo em cima das cumbucas dele em Brasília e disso tudo?

- Aí rolando os protestos e o Alckmin perguntou pro Haddad: "But what about us?" E ele respondeu: "We'll always have Paris"

- A gente vai pra rua pra ser um país só e volta pras redes tentando ser único, diferente, melhor que os outros.

22 de mai. de 2013

Para minha mãe

Acabei de assistir a um vídeo, por conta dos estudos, e meus olhos inundaram. O que rompeu os diques de contenção, cada vez mais frágeis após os 30, foi ver uma porção de mães falando sobre o que ninguém contou para vocês a respeito da maternidade antes de sua primeira gravidez. Loucura, mãe! Que mudança, que coisa assustadora! Para mim, que arrepio ao pensar em mudanças e novidades - e como trabalhei esses temas -, dá mais frio na barriga que a subida antes do looping da montanha-russa. Quantas coisas vocês aguentam, sorrindo, felizes da vida, mesmo com a gente reclamando feito louco.

Pois tem muitas coisas sobre as quais os filhos também não recebem instruções de uso. Embora me orgulhe demais de sua independência, fico aflito cada vez que penso em você zanzando de carro em tempos inseguros e de miopia, minha Miss Magoo.

Quando viaja, também passo horas no ar, torcendo para que bote logo os pés de volta em terra firme e comece a diversão. Se fica doente, quero correr para sua casa, cozinhar a sopinha que ensinou a mim e ao meu irmão, e tantas vezes confirmou a receita e o passo-a-passo ao telefone depois que mudamos de cidade. E cuidar, por mais que seja difícil um filho entender os tipos de cuidado que uma mãe precisa, porque nessas horas elas tendem a mentir um bocado.

Será que está comendo direito? Será que a pressão do seu olho está controlada, continua com os exercícios, não pega friagem, está dormindo bem, está feliz, não está viciada demais no Facebook, não abusa dos privilégios de quem tem mais de 60 anos? Não estou deixando a desejar no zelo por você?

Acho incrível como se atira nas coisas. O seu coração é um saco sem fundo. Cuida de mim, do Du, cuida dos hóspedes da ABOS, com sua “princesa” em merecido destaque, da tropa no trabalho, dos amigos, da família, do Teco, do papagaio, das orquídeas, ainda que você acabe vindo só depois disso tudo. Hoje, adulto - putz! -, entendo que isso é sua vida. Esse monte de pecinha é o que te compõe.

Imagino todo dia você encontrando o próximo grande amor da sua vida, fazendo uma mala e indo viajar sem rumo. Aí me dá aquele ciúme louco de filho menino! E rememoro os dias em que passei a entendê-la como mulher e a respeitá-la e admirá-la ainda mais.

Não tenho porque colocar aqui o quanto você também é geniosa, cabeça dura, birrenta. O seu signo denuncia um pedaço e o que eu puxei dessas características quase completa o quadro. E já falei um pouco disso lá no dia das mães de 2006.

Talvez eu nunca consiga agradecer e amá-la o suficiente para deixar claro e pleno em seu coração a importância de entender quem eu sou, como eu sou e estar comigo para o que der e vier, mesmo que ali nos anos 60 ou 70 algumas coisas não estivessem previstas ou sequer aparecessem em canções ou novelas, e nos seus sonhos de maternidade talvez eu e o Du fôssemos um dedinho diferentes. Se não me falham a memória e o Google, Balzac diz: “o coração das mães é um abismo no fundo do qual se encontra sempre o perdão”. Mais que isso, a compreensão, o amor, o acolhimento, a segurança.

Você nasceu para ser mãe de meninos.

A parte chata é que, quanto mais a gente cresce, menos tempo para conviver acaba tendo e mais escondemos a vontade/necessidade de colo, de bobos que viramos. Foi de você também que veio o ensinamento de que os momentos juntos, lado a lado, mesmo que poucas horas do relógio, podem ser um infinito quando estamos nos divertindo como bem sabemos fazer.

Lembra do post com a Jodie Foster, no qual falo sobre você enfrentar suas noites mais escuras para manter meus dias ensolarados? Nele ela diz para a mãe ficar tranquila, pois ela fez tudo certo na vida. Sim, está tudo certo. Sigamos aproveitando! Eu te amo, eu te amo, eu te amo.

Feliz aniversário, que Deus siga te dando uma vida repleta de bênçãos e alegrias.

--

9 de mai. de 2013

O próprio viver é morrer

- I want to be forever young
- Do you really want to live forever?
- Forever, or never
- If you stay forever, hey, we can stay forever young
- May your heart always be joyful
- May your song always be sung, may you stay forever young
- Carve your number on my wall and maybe you will get a call from me
- Instead of carving up the wall, why don’t you open up, we talk?
- I am ready for a fall
- We are ready for the floor
- I'm hoping with chance, you might take this dance

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8 de mai. de 2013

Checklist

( ) Noção de que está tudo bem com você
( ) Alegria
( ) Companhias
( ) Amigos
( ) Amores
( ) Quebradas de cara
( ) Fôlego

My heart skipped a beat.

7 de mai. de 2013

Amor numa madrugada qualquer

Estou na firma, voltando agora do curso que lota minhas noites de segunda e quarta e alguns sábados. Deveria estar pilhado refletindo sobre tudo que vi por lá, sobre os projetos e desafios. Ou sobre o incrível show dos Paralamas, que comemoraram 30 anos - meus e deles - no Rio de Janeiro e que curti com pulos adolescentes, cantando em voz alta e dançandinho com Fe Fontes até duas e tanto da madrugada. "Você não sabe quantos planos eu já fiz, tudo que eu tinha pra perder eu já perdi, o seu exército invadindo o meu país". No trabalho. No filme que assisti. Mas estou pensando no amor. Não na paixão, na conquista, no frisson, mas no amor. E pensei nele antes da aula e do show, durante a aula e o show, durante o vôo de volta, durante o trabalho, na praia, ao longo do filme, o tempo todo.

Estou na firma porque não quero o silêncio cheio de lembranças de casa. O filme está no aparelho de DVD, o bolo está em cima do fogão, com apenas uma fatia comida. O colchão branco está no chão da sala, tem bebidas na geladeira. Eu estou na firma e o lustre colorido está com suas sete lâmpadas apagadas.

Tudo já foi dito sobre o amor, é verdade. Escrito, cantado, versado, vendido, acertado, estragado, gritado, chorado, sorrido...

Ele é fogo que arde sem se ver, é líquido, impulsiona heróis, gera ridículas cartas de amor. É como ser poeta, coisa difícil de definir. "É amar-te, assim perdidamente, é seres alma e sangue e vida em mim e dizê-lo cantando a toda a gente". É rédea, é deslumbre. Não tem fim.

Eu não sabia nada sobre amor até que passei um ano olhando para meu reflexo. Um ano dolorido e sozinho. Eu sabia sobre paixão, disputas, medo, concorrência, sexo (talvez), companhia, ser deixado para trás e replicar modelos. No entanto, nunca soube o amor e o respeito. E a alegria dessa dupla.

... I watched you suffer a dull aching pain, now you decided to show me the same...”

Aí, ao fim desse ano e de uma década, eu tive um estalo. Eu me vi nos livros, nas cartas, nos poemas, filmes e tudo mais. Eu quis olhar de dentro, não com um pé no resguardo. O que, sejamos honestos, ferve a cabeça e confunde ainda mais o dia a dia.

Talvez eu até agora não saiba, ninguém nunca vá saber, mas acredito na Carolina Ferraz. Diz ela que foi um amor, um único amor que veio, cruzou sua vida, tocou sua alma e ficou marcado em sua pele. E que numa quinta-feira a tarde de um ano qualquer, tropeçamos nesse amor já supostamente esquecido e percebemos que amor igual não há, e que aquela pessoa continua e continuará a ser nossa referência afetiva mais sincera e profunda.

Marcado na pele. Elis está cantando algo semelhante ao lado deste post.

E acredito em Dante e que, ao fim de todo inferno, “do ledo céu as cousas belas, por circular aberta divisamos: saindo a ver tornamos as estrelas”.

Ele é oposto aos planos e aos portos seguros. Talvez eu esteja começando a entender o que é amar. Talvez esteja com síndrome do pânico.

O amor não é tecnologia. Sua história é batucada em uma máquina de escrever. Seu som é o de teclas, firme, lúdico, identificável, decifrável apenas se decodificado na página timbrada. O amor é o enroscar do mecanismo da máquina de escrever ao se digitar duas teclas simultaneamente. Velho, inevitável, errado e charmoso.

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Porque essa noite eu tive um pesadelo recorrente sem ter sido um mau menino.

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30 de abr. de 2013

As canções que você fez pra mim

- Ela adora um caráter jesuíta nas amizades
- Você é muito diferente, né
- Sou muito diferente. Meu caráter jesuíta não é só para amizades, é para o universo. E todos mais que houver
- (Risos) Para a galáxia
- Dou espelhos e quero devoção. E fé
- Cega
- Faca amolada
- Vaca atolada. Minha mãe cantava assim pra mim, demorei pra descobrir
- Eu demorei a saber que faca amolada não era uma faca que alguém deixou de saco cheio

24 de abr. de 2013

Bellini

O relâmpago “Je serais content quand tu seras mort” a despertou. Era o resto da fita que pusera para tocar.

Talvez por discordar do verso é que tenha conseguido voltar à consciência. “Je t'ai reçu à bras ouvert”, e de braços paralelos ao corpo seria a despedida. Aquilo fora uma construção, sufocante e linda. Este último dueto – não o fim da ópera – servira apenas para marcar na pele o início de uma ária.

Aquela foi a última vez em que se viram fisicamente. Quando conseguiu levantar da poltrona, sem saber se passou horas ou tempo demais escangalhada ali, pensou em fugir de sua própria vida e tentar algo novo e longe.

O pensamento óbvio era por onde começar. Por onde recomeçar. O que?

Jogou a comida, fria e enrugada. A comida fora sempre uma personagem coadjuvante. Lavou a louça, virou e recombinou a mobília. Abriu o armário do quarto. Os melhores textos foram no baú que ele mandou buscar dias antes. Sem rascunhos. As roupas foram na primeira mala. Lembrava-se da blusa listrada, com furos para os dedos. Pela foto imortalizada digitalmente, talvez. De resto não tinha memória exata.

Espreguiçou-se e resolveu ficar. Andar.

Por mais que fugisse, tocasse fogo na casa, corresse, é certo que carregaria aquela construção consigo. A cabeça não poderia ser renovada ou deixada no passado, estava pregada ao corpo e era muito mais rápida e honesta que o desejável para o tempo. Os tijolos e telhas seriam pesados demais e os alicerces teriam que ficar para trás.

Mudou alguns hábitos.

Teve outros amores, nunca acreditou em apenas um. Do terceiro trazia a agonia de nunca tê-lo deixado passar do tapete da porta de entrada. Do quinto, uma sensação morna. Do sexto, a retomada da sensação de beleza e segurança. Perdeu as contas. Não por serem muitos, mas por serem outros.

Tê-lo como seu nunca mais era o que menos lhe azedava a boca. Tê-lo como uma bruma envolvendo a estrada e obrigando a transitar sempre devagar e com atenção é que empapuçava. Já sabia que ele não era a personificação da beleza e alegria, tal qual Tadzio, mas ainda não sabia como não tropeçar em um narcísico fim similar ao de Aschenbach. A morte pelo desejo do reflexo.

Tantos anos que perdeu tentando ser o filme, quando poderia ser a trilha sonora. Esta ária era para que ela aprendesse sobre ela mesma! Obrigada a assumir. Pediu, em sua mente, algumas desculpas. Ah, como se arrependeu de coisas...

Ele e ela trocaram mensagens, algumas mais que amenas. Cartas íntimas. Ela conversava com os filmes. Foram desconhecendo-se em um terreno de intimidade que espectadores jamais entenderiam e julgavam a todo tempo. Ela mantinha poucos amigos.

O que ele estaria fazendo enquanto ela escrevia? O que ela fez enquanto ele assistiu ao filme do qual cita um trecho na última carta? Por que não podemos ser amigos, ele pergunta? Porque nunca fomos, responde a tela. Qual lugar mais teria gostado de conhecer? Com quem comentar coisas cotidianas? Seu toque fora superado? Esquecido?!

Descontou no cartão de crédito a ausência de uma companhia com quem fazer planos em conjunto. Tempo.

Um dia pendurou-se na escada, sacudiu o corpo, como quem dança ao balançar suspenso pelos braços, soltou um sorriso tímido, de cantinho. Era um passo. A névoa começava a orvalhar.

A vida possui mais fantasmas que nossos sonhos.

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"É como se eu não te convidasse pra festa, e mesmo assim ficasse bravo por você não ir."

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Este post é uma continuação de "A vida em preto e branco"

10 de abr. de 2013

Cinco maiores arrependimentos antes de morrer

#1. "Eu gostaria de ter tido coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim."

#2. "Eu gostaria de não ter trabalhado tanto."

#3. "Eu gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos."

#4. "Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos."

#5. "Eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz."

13 de mar. de 2013

Para brincar na gangorra: dois

- Te odeio.
- Por que, agora?
- Não, acho que desde sempre. Desde aquele dia em que você me pegou em casa, me tirou de casa, desde o dia em que nos beijamos no balanço do parquinho.
- Grandes ódios nascem assim, de tardes lindas e incríveis.
- Nascem e permanecem, guardados na dúvida, na esperança, na espera, na incerteza, no convívio casual.
- Não, quem nasce assim somos nós. Eu só estava sendo irônico. Os sentimentos, diria o clássico, nascem da insustentável leveza do ser. Do bonito, do incerto, do querer, do tocar. Aí a gente joga farinha, medo e vaidade, amassa tudo e embatuma.
- Também.
- Sempre te quis bem, mesmo quando brincamos na gangorra do parquinho.
- Eu quero.
- Chega de farinha, podemos ser carolinas?
- Podemos ser tudo e qualquer coisa, juntos.
- Todas as duplas, todas as combinações? Gosto das suas certezas frente a todo meu forro de gesso.
- Todas as possibilidades frente ao primeiro - do não primeiro - encontro.
- Desencontro. Desencanto. E meu vazio?
- Cheio de tudo de mim.

11 de mar. de 2013

Rede de Parceiros

Nunca escrevi um e-mail de despedida ao sair das empresas em que trabalhei. Rascunhei, agendei horário de envio, inseri os endereços das pessoas, mas nunca apertei enviar. Tudo por simbolismo, talvez. Não gostaria de encerrar nada ali. Queria carregar comigo os bons momentos, as pessoas que transpassaram minha vida além do profissional, o quanto aprendi e cresci em cada um desses lugares, o quanto me diverti, o quanto não me arrependi por ter seguido meus instintos na carreira. Ou o quanto aquilo foi chato pra caramba, sejamos honestos.

E ainda que seja um adulto_profissional, com Linkedin, carteira assinada, responsabilidades e obrigações, nada disso interessa ou conta quando nos pegamos fantasiando nossas vidas, como fossem os dias um perfeito roteiro, com o melhor dos finais. Minha passagem pela área de parcerias foi um pouco assim. O convite era para assumir uma área “cansada”, a qual não sabiam muito bem para onde apontar. Vim imaginando que seria um grande pepino e que teria uma porção de problemas. Longe disso.

Tive pouco a ensinar. A maior parte de meus quase dois anos aqui foi tentar extrair de cada um de vocês um potencial esmorecido pelo histórico. Vocês sabiam muito bem o tamanho de cada um, o espaço e especialidade de cada um e como fazer com isso uma trama firme, uma equipe coesa e que sabe trabalhar e encontrar saídas para as mais diversas situações, com pouca margem de manobra. E quem foi chegando logo percebeu esse perfil e soube se posicionar, agregar e entender que é parte fundamental do trabalho dos demais. E crescemos.

Aprendi muitíssimo. A ter uma equipe, o que refletir, o que absorver, o que é lealdade, honestidade e o real sentido de um time e trabalhar junto para um objetivo comum. Pude contar com vocês em todos os momentos. Imagino serem raros os “chefes” que nunca se sentiram desamparados ou “na mão” um dia sequer durante mais de um ano de trabalho em grupo.

Que nos cruzemos outras vezes pelo mundo profissional, como chefes, chefiados ou pares, que suas carreiras sejam alegres e abençoadas.  =)

Obrigado.

28 de fev. de 2013

Moonrise Kingdom

- Why do you always use binoculars?
- It helps me see things closer. Even if they're not very far away. I pretend it's my magic power.
- That sounds like poetry. Poems don't always have to rhyme, you know. They're just supposed to be creative.

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- I'm sorry, Walt.
- It's not your fault. Which injuries are you apologizing for, specifically?
- Specifically? Whichever ones still hurt.
- Half of those were self-inflicted.

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- I love you, but you don't know what you're talking about.
- I love you too.


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Das vontades de uma fuga em um universo pequeno e infinito, em tons saturados. Uma dança sem pé nem cabeça, de roupas de baixo, na areia da praia. Dormir ao som daquela voz lendo aos seus ouvidos. A vida em um mala, uma mala para encontrar a vida.

Hoje tive dois momentos para notar como nossa existência vai se refazendo. A seu tempo, não ao tempo de nossa pressa. Em uma intrincada arqueologia, escavando os campos do coração e cabeça, sem que parem sístole, diástole e sinapses, selecionando o que se restaura, o que se reconstrói, o que se descarta e buscando algumas tímidas peças para o Museu de Grandes Novidades. 

27 de fev. de 2013

Aquário - Dreams of visions

"A quadratura entre a Lua e Plutão pode fazer você avaliar de uma forma muito dura as possíveis falhas no seu conhecimento e na sua cultura. Em vez de tentar disfarçar a insegurança, faça perguntas. E dê aos outros, e a você mesmo, a permissão para não saber tudo. Você pode sentir uma atração muito grande por qualquer coisa que seja capaz de mudar radicalmente a rotina do dia a dia. Planeje as mudanças com cuidado."

13 de fev. de 2013

O que leva um dia até outro dia

Eu nasci apressado em uma quarta-feira de cinzas. Eu sou um pouco quarta-feira de cinzas - a Marcha da Quarta-feira de Cinzas -, característica que tatuei na panturrilha esquerda. Solidões e eterna sensação de fim. Não sei se isso está mudando com a idade ou se estou passando a entender melhor.

Na véspera desta quarta, cheguei em casa um pouco mais tarde do que planejei. Carnaval por todas as ruas, por todas as pessoas, diversão obrigatoriamente imensa. As coisas estavam em silêncio e, estranhamente, não liguei a TV ao entrar, gesto praticamente automático. Subi lentamente as escadas, tomei banho, organizei algumas coisas e roupas. Durante esse ritual, sussurrei a música "The Parting Glass". Não sei o que ela fazia em minha cabeça após tantas marchinhas, sambas e axés. O tom talvez fosse um pouco mais melancólico que o desejável para a data. 

A primeira vez que ouvi essa canção foi em um seriado, durante uma cena em que uma família se despede da sede de seus negócios, que chegam ao fim. Apagam as luzes, uma a uma, desejam boa noite à empresa. Não se despedem uns dos outros, mas do lugar. Do tempo. Muitos simbolismos para ilustrar um daqueles raros momentos em que temos a consciência de que as coisas não mais serão as mesmas. Podem ser melhores, mas certamente mudarão.

Aproveito a sensação para pegar meu caderno de rascunhos e a caixa de lembranças. Estranho vasculhar dentro da gente. Quem fomos, o que somos, o que planejamos, o que aconteceu. Algumas frases ainda fazem sentido, soam, quem sabe, como uma mensagem enviada ao futuro. Passo a vasculhar memórias digitais. Há um post de setembro de 2004 com uma foto do prédio da firma e a legenda: “Quem sabe um dia”. Este, agora. Estão ali grandes amores, grandes momentos. Encenação, também. Escolhas. Muita coisa mudou, dentro e ao redor, mas ainda sou um menino (menino?) das mesmas músicas, dos mesmos poemas, das mesmas besteiras.

Ouço "The Parting Glass", três versões diferentes. Encontro a cena do seriado. O sono, tão raro, veio. E a calma. Apaguei as luzes, desejei boa noite. Este talvez seja um desses momentos.

Eu comecei em uma quarta-feira de cinzas.

E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar (...)
Porque são tantas coisas azuis
Há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe

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12 de fev. de 2013

Like Crazy

"I just have to say this one thing, and it's really important that you listen to me. It just doesn't feel like this thing is ever gonna go away. It's always there. I can't get on with my life. The things that we have with each other, I don't have with any other person, with any other human being."


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Dos filmes do carnaval.

7 de fev. de 2013

Mr. Gorbachev, tear down this wall

- What do I do when my love is away?
- Does it worry you to be alone?
- How do I feel by the end of the day?
- Are you sad because you're on your own?
- No, I get by, high, gonna try with a little help from my friends.
- Do you need anybody?
- I need somebody to love.
- Could it be anybody?
- I want somebody to love.
- Would you believe in a love at first sight?
- Yes, I'm certain that it happens all the time.
- What do you see when you turn out the light?
- I can't tell you, but I know it's mine.

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Dez últimos dias de uma bela década e um imenso frio na barriga.

31 de jan. de 2013

A small voice said "resist"

- Upon my heart: just one slow dance, I'll rescue you
- American Pie: can you teach me how to dance real slow?

I knew if I had my chance that I could make those people dance and maybe they'd be happy for a while…

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30 de jan. de 2013

Não vá ainda

- Não vai. Espera amanhecer. Não é isso que diz aquela música?
- É espera anoitecer. A noite é linda, me espera adormecer. Risos.
- Já está noite. Linda. Tanto melhor.
- Mas preciso...
- Ainda tem tanta novidade pra gente caçar.
- Talvez eu esteja cansado...
- Talvez você esteja fugindo.
- Talvez eu esteja inventando.
- Talvez você esteja machucado.
- Só o tempo, não?
- O remédio está aí dentro. Aí, ó. Não desconta no tempo.
- Descontar?!
- Vem logo. O novo acelera, se seu problema é o tempo.
- Tenho medo do novo, tenho medo do passar do tempo.
- Fecha os olhos, então. Te levo pela mão e vou contando, até que você não resista a espiar com esses olhos esbugalhados.

29 de jan. de 2013

Sobre o que é o amor, sobre o que eu nem sei quem sou

Da Folha de S. Paulo / NYT

(...) Criados na era do "ficar", os jovens da geração do milênio (também conhecidos como geração Y), que agora estão começando a pensar em se assentar, vêm subvertendo as regras da sedução.

(...) Eles entram em contato por mensagens de texto, posts no Facebook, MSN ou semelhantes e outras formas de "não encontros". Tudo isso vem deixando uma geração que não sabe como conseguir um namorado ou uma namorada.

"O novo encontro não é um encontro, é passar tempo juntos", comentou Denise Hewett, 24, produtora de TV em Nova York que está criando um seriado sobre essa nova paisagem romântica. Como um amigo lhe disse: "Não gosto de levar uma garota para sair. Gosto que ela me encontre em alguma coisa que estou fazendo - ir a um evento, um show, por exemplo".

(...) O problema, disse ela, é que "os jovens de hoje não sabem o que fazer além de 'ficar'.

(...) Para fazer a corte a alguém do modo tradicional - ou seja, pegar o telefone e convidar a pessoa para sair - era preciso coragem, planejamento e um investimento considerável de ego (uma rejeição ouvida pelo telefone dói).

Não é o caso com as mensagens de texto, os e-mails, o Twitter. (...) No contexto do relacionamento, esses tipos de comunicação dispensam o charme, em grande medida.

Diante de um fluxo interminável de solteiros entre os quais escolher nos sites de encontros on-line, muitas pessoas têm medo de estar perdendo alguma coisa interessante, então optam pela abordagem "speed-dating" - ou seja, passam rapidamente por grande número de pretendentes. (...)

"É como jogar dardos contra um alvo", disse Joshua Sky, 26, coordenador de "branding" em Manhattan. "Alguma hora uma das setas vai grudar no alvo."

Há outra razão que explica por que os encontros à moda tradicional tornaram-se obsoletos. Se o objetivo do primeiro encontro era saber um pouco sobre as origens do pretendente, seu grau de instrução, suas tendências políticas e seus gostos, hoje o Google e o Facebook cuidam de tudo isso. (...)


Matéria completa: Jovens subvertem regras da sedução com 'não encontros'

28 de jan. de 2013

Janeiro

Até o meio da adolescência olhava para o Rio com a cara amarrada. Eram memórias dos tempos da separação de meus pais, a idéia de violência, a resistência com o sal e a areia. Até que, nas catracas do metrô de São Paulo, dei um passo na direção contrária e voltei a calçar meus chinelos e fazer uma pequena mala.

Gabriel me fez entender a vida no Rio, os cariocas e seu abraço. Nossos dias na Tijuca ainda tinham muito dessas linhas que escrevi acima, mas foi o começo do desmanchar. Foi o tempo da cidade, não da praia. Scrumble, Gummy, comida da Tia Wanda, família, flauta transversa e passeios alternativíssimos para o Lucasof de então. A Floresta da Tijuca de All Star, foto lá no topo e bolhas nos pés. Os amigos, a faculdade, a estação Saens Peña e a praça Varnhagen, que o sotaque transformava em algo engraçado. As despedidas. "A onda ainda quebra na praia, espumas se misturam com o vento", canta Lenine quando rememoro.

Thais, a superlativa Thata, que define o Rio como "o mar, quatro quadras e uma enorme pedra", quando fomos juntos à um casamento, me fez voltar a pisar a areia, comer empada dos vendedores ambulantes, ouvir a música que entoam para vender mate, sanduíche natural, biscoito Globo. Entrar no mar, sorrir para o sol, caminhar sem rumo, sem porquê, feliz.

Com o Caio foram dias que alguns posts anteriores sintetizam melhor do que poderia fazer neste texto. Foram lindos. Foram tantas regatas e caipirinhas na praia, lanches no quarto do hotel. Shopping, claro, porque somos paulistas. As caminhadas no calçadão, ainda que trôpegas, poderiam ser uma gravação de videoclipe para música de Avril, que perseguimos e assustamos. A graça de um macaquinho comendo bolacha no caminho para o Cristo e seus incansáveis braços erguidos. E, asseguro, as memórias todas ainda estão lá. Acabei de conferir. As melhores, as coradas, sustentadas por muita isca de peixe. As outras, nubladas, choveram, permearam a areia e refizeram-se.

Bethânia declama o lado que menos visito, mas a aura do todo. “Foi Copacabana quem me recebeu, com seu cheiro de batata-frita e gasolina, suas tardes de raios e trovões inesperados e as suas noites inesquecíveis, mágicas”. O botão "stop" apertado na década de 1970.

Toda ida para lá carrega comigo um pouco de angústia; desafiar minha inerente solidão, o nada do mundo de História Sem Fim. Passa ao desembarcar, porque sei que ali existe alegria e calor. Em vez de Fantasia se desfazendo, é Pleasantville ganhando cores. Technicolor. São todas as músicas já compostas. 



Por entre túneis escuros, ruas decadentes, casarões esfarelando, morros e artérias vermelha e amarela chega-se a visuais incríveis. São caminhos. Passagens.

O Rio e eu estamos constantemente fazendo as pazes, melancólicos como a voz de Johnny Cash. Pedindo um ao outro 'perdão pela duração dessa temporada, dizendo pros da pesada que vamos levando'.

Agora, cercado de amigos das mais diversas origens e corações, junto mais uma porção de lembranças sobre a cidade. Fe Fontes regeu esses dias com seu encanto que transborda. Lets e seu sorrisão atravessaram comigo a avenida atrás do bloco de carnaval, embaixo da chuva, depois de muito sol. É assim, mistura. Vinny e sua busca pela fuga de todo o concreto de Brasília. E gente nova. Conhecer. Rir. Mudar. Continuar.


Aprendi a fazer do Rio minha notícia boa.

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21 de jan. de 2013

Olhos de cão azul

"Agora creio que amanhã não a esquecerei. Mas sempre esqueço ao acordar quais são as palavras com que posso encontrar você"

14 de jan. de 2013

Pelas ruas

- O que está fazendo agora?
- Estou andando pelas ruas e maquinando. 
- Maquinando o que? 
- Sobre a vida. Queria saber fazê-la melhor, mais leve, num estalar de dedos. 
- Às vezes a gente sabe. 
- Como? 
- Depende. Uma mudança de atitude, de pensamento, de foco. É difícil se desprender de certos sentimentos e atitudes. E às vezes dói. Tem que descobrir...

13 de jan. de 2013

Real and honest and normal against all odds

"... I know you’re inside those blue eyes somewhere and that there are so many things that you won’t understand tonight, but this is the only important one to take in: I love you, I love you, I love you. And I hope that if I say this three times, it will magically and perfectly enter into your soul, fill you with grace and the joy of knowing that you did good in this life."




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Para minha mãe, que enfrentou suas noites mais escuras para manter meus dias ensolarados. Que segura firme minha mão, ainda que sem entender bem algumas coisas, mas sem jamais titubear no amor.

11 de jan. de 2013

Break, blow, burn, and make me new

- Como você está?
- Arrumando a casa para os trinta.
- E como se sente?
- Ainda não sei. Uma confusão. Como é?
- É igual, mas é meio chique. Trinta... Tipo café sem açúcar, sabe?
- Bittersweet?
- Não é sobre o sabor, é sobre o todo. É meio chique. E o que quer na casa arrumada?
- Mais rumo, mais novidade, mais encanto, mais fidelidade, mais cafuné...
- Mais um monte...

6 de jan. de 2013

Ruby Sparks

"I'm sorry for every word I wrote to change you. I'm sorry for so many things. I couldn't see you when you were here and now that you're gone, I see you everywhere. You may see this and think it's magic, but falling in love is an act of magic - so is writing".



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Fomos um rito de passagem, do austríaco do porão ao Grito, de Edvard Munch, passando pelos 15' de Warhol.