13 de mai. de 2005

Uma noite no semi-árido

Saio exausto do trabalho, irritado com a brutal diferença de temperatura entre meu agradável escritório e o chuvoso frio se São Paulo. No aglomerado de carros da Marginal Pinheiros não há outra coisa na qual pense senão no aconchego de meu apartamento, longe dos problemas e barulhos capitais, onde posso descansar e esquecer a agitação cotidiana.
Estaciono o carro na garagem, subo e vou direto saciar minha latente vontade de ir ao banheiro. Aliviado, aperto a descarga. Nada acontece. Aperto outra vez, mais uma, e nada. Vou lavar as mãos na pia. Também não funciona. Corro para o tanque da lavanderia, meu último reduto e, surpresa, nada de água!
O porteiro interfona para avisar que o prédio ficará sem água até amanhã, para que seja feita a manutenção da caixa d´água. Diz que tentou me avisar antes, mas eu não estava.
Cansado e furioso, lembro ironicamente que hoje é Dia Internacional do Meio-ambiente. A manchete do jornal sobre a mesa rememora a suspensão, em fevereiro, de gastos no Orçamento do Governo Federal, que paralisou as obras do Proágua Semi-árido, deixando dez Estados à espera de recursos. Vivo uma noite de semi-árido em plena terra da garoa.
Algumas horas sem água já bastam para desestruturar todo meu desejado descanso. Meu egoísmo traz outra lembrança: 1,1 bilhão de pessoas não tem acesso a água potável e 2,4 bilhões não têm acesso nem ao saneamento básico. Dados do jornal. E eu aqui, praguejando minha má sorte.
As mãos sujas, navegando pela internet, o cheiro vencendo a barreira formada pela porta do banheiro e se alastrando pelo apartamento. Algumas horas, uma noite, a geladeira cheia de bebidas. Do que reclamam os que não têm sequer água para beber e vêem seus filhos brincando no esgoto que corre aberto logo ao lado de sua janela, com o feijão acabando em pleno dia 10?

Um comentário:

Anônimo disse...

Oh, did not you?
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