18 de mai. de 2005

Fotos, infância e besouros

Ontem à noite, para espantar um pouco a solidão, comecei a rever algumas fotos que trouxe comigo para o apartamento na capital. São poucos álbuns, três ou quatro, mas cada um deles traz uma infinidade de histórias. Fotos de aniversários, formaturas, reuniões de família em casa. Detenho-me um pouco mais de tempo em um deles, onde aparecemos eu e meu irmão, há tempos atrás.
A diferença de idade entre nós é de três anos e meio, sendo ele o mais velho. A vida toda nos demos muito bem. Durante anos dividimos o mesmo quarto, estudamos na mesma escola, partilhamos as mesmas brincadeiras e até alguns amigos.
Um acontecimento saltou do arquivo da memória ao olhar uma das fotos e me fez rir. Quando tínhamos entre cinco e onze anos, éramos grandes aspirantes a biólogos. Uma de nossas várias experiências genéticas com animas (formigas, grilos, mosquitos...) era congelar besouros em potes com água no freezer, esperando que ao descongelarmos os pobres animais eles pudessem voltar a viver normalmente. E tenho claro em minhas lembranças que um deles deu um pequeno passo, embora meu irmão insista que o movimento foi causado pelo gelo que derreteu.
Outra coisa curiosa é que sempre que víamos um besouro virado com as patas para cima (eles são como tartarugas, não conseguem se virar), com muito cuidado nós o colocávamos na posição certa. Todas as noites, diversas vezes. Paramos com nossas experiências, crescemos, tivemos que separar um pouco nossas vidas, mas até hoje, quando na casa da minha mãe, continuamos desvirando todos os besouros do caminho. Podemos estar prontos para sair, com pressa, seja lá o que for, que paramos para socorrer os pequenos animais. Acabamos contagiando alguns outros membros da família com nossa ação. Minha mãe e minha prima, embora com menos entusiasmo e mais nojo, com a ponta do sapato, fazem o mesmo.
Não sei quando foi que isso começou e tampouco sei ao certo porque fazemos (talvez para nos retratar após os congelamentos), mas já devemos ter salvado vários ao longo desses anos. É sempre frustrante encontrar algum deles morto pela manhã.
Será que um dia meu filho (será que vou ter um filho?) terá a mania de salvar besouros de seu trágico destino de morrer chacoalhando as pernas viradas para cima?

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