19 de jul. de 2013

A alma viaja com a velocidade de um camelo

Não sei se você já assistiu ao lançamento de um ônibus espacial. Estão na base, juntos, o ônibus, o tanque externo e dois foguetes propulsores, acoplados como uma coisa única, dependentes. Ao redor, muita expectativa. Protocolos precisam ser seguidos, uma extensa lista de tarefas precisa ser cumprida, várias pessoas de olho. Na parte inferior da imensa armação metálica e dos braços mecânicos que sustentam o conjunto, nota-se o momento da ignição.

10, 9, ignition sequence start, 6, 5, 4, 3, 2, 1, 0, all engines running. Liftoff!

De perto é uma grande explosão, calor e fumaça. De longe, um pontinho ascendente com um arqueado rastro branco. Em poucos segundos, dois foguetes ficam para trás e caem no mar. Em órbita, o tanque vai para um lado, o ônibus espacial segue sua rota. Estiveram juntos e dependentes o tempo necessário para a subida, complementares. Agora seguem destinos diferentes e separados, mas ambos estão no caminho certo, pois podemos olhar isso de qualquer ângulo, sob qualquer ótica, girando o mapa estelar como bem quisermos. E só foi possível chegarem ali porque estiveram lado a lado, cumprindo uma missão.

É um momento bonito, de ansiedade, mudança, energia, explosão, rompimento de barreiras, descobertas.

Sobre nós, naves loucas, aqui, da terra, é característico pensarmos que somos os únicos com determinado sentimento. Ninguém ao nosso redor está nessa sintonia, o que nos torna um pouco marginais. Grande mentira.

Não é com alegria que a recebo, dizendo, com um sorriso, que estarei sempre aqui (não neste blog, mas ao seu lado) para o que quiser ou precisar, sejam conversas, silêncios, colo ou excessos.

Imaginei que ao longo da vida evoluiríamos para tranquilidade ou situações sob controle, mas não é bem assim. Tenho dias de intensa melancolia e sequer consigo explicar o motivo. A parte válida é que parecemos manter uma boa qualidade física. Tudo bem termos encontrado uma metade de laranja e não sabermos se é lima ou pêra. Vamos de uva e kiwi para nos divertirmos. Será uma sombreada natureza-morta de Caravaggio, até a vida retomar a fase de alegria espontânea e noites estreladas de Van Gogh.

A gente vai se doutrinando a depender de pouco, a encontrar conforto em nós mesmos, para depois agregar coisas ao redor, o contrário do ônibus.

Você vai achar que isso é um monte de baboseira vazia e que estou inventando, mas, como já te disse, passa. Demora, é ruim e, em parte, um grande exercício, mas passa.

Para acelerar, a única saída é se forçar a novos hábitos, ocupar todos os momentos com qualquer coisa, até criar uma rotina nova e viver cercada de amigos.

Assiste-se a uma porção de filmes, chora-se com um monte de músicas. É um aprendizado. Entortei três namoros para tatear a necessidade de estarmos bem e seguros sozinhos para depois dividirmos uma vida, ou depositaremos valores errôneos em outra pessoa e cobraremos juros impagáveis.

Não somos sozinhos em um relacionamento. Vale buscar ajustes, mudança, crescimento, mas não vale muito tentar colocar marcos e características.

O tempo vira a gente do avesso. Parece mágica, parece piegas, mas eles estavam certos. O tempo rouba os anéis de Saturno e traz juízo. E com as coisas que não passam, como alguns sentimentos, a gente vai ganhando serenidade pra saber lidar, driblar, seguir.

Dá muito medo o terreno desconhecido e incontrolável, até que você vai entendendo que não tem a rédea, mas pode descer do cavalo e caminhar ao lado dele. E que o medo é um mix de vários outros sentimentos embalados para viagem.

Não bata de frente quando os momentos pegarem pesado. Mande um pivô ao melhor estilo Luiza Brunet e corra para a minha casa. Tenha um colchão itinerante e antiácidos. Para balancear, não fuja de vez da solidão. Como diz Contardo Calligaris, ela “é a condição do diálogo moral de cada um com sua consciência”.

Estamos bem. Estamos prontos para a próxima decolagem.

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