24 de nov. de 2010

Relendo, reescrevendo. Trapaceando.

A Adilia perguntou no Toques de Alma onde as pessoas estavam em maio de 1968, em um post com informações pessoais, juventude e muitas referências (Mandela, protestos, Quartier Latin, Martin Luther King Jr., ...). Eu ainda não estava – e nem era – em 68, mas fiquei pensando.

Em 1968 eu ainda nem era um sonho acalentado na cabeça de minha mãe, tampouco uma dúvida errante na de meu pai. Em 68 estava vagando em algum mundo por aí.

Rebentado, de 68 lembro que a juventude sempre vai ser o espelho universal no qual todos precisam ver-se refletidos, sim. É nela que mora o fôlego pra gritaria, mas nem sempre a cabeça para saber os motivos do alarde. E, como disse o Lobo da Estepe, eu estou cônscio da existência desse espelho, no qual tenho uma necessidade tão amarga de olhar-me e no qual temo mortalmente ver-me refletido. A boa juventude é a juventude velha.

Nelson Mandela conheci num livro do colégio, e depois em plantão da Rede Globo e na música do Simple Minds. Música que me mostrou também os “Bloody Sunday”, no swing dos versos lancinantes do U2, que conclamavam uma platéia em polvorosa a cantar “for the Reverend Martin Luther King”, aquele que teve um sonho do qual muitos hoje nem sequer ouviram falar. Mas eu ainda acredito que um dia estaremos sentados juntos “at the table of brotherhood”.

Demorei a entender – se é que o fiz – Hesse, e de Huxley sempre lembro que “se somos diferentes, é fatal que estejamos sós”. Era frio e adolescência quando li Salinger, e ele pareceu me entender, abraçar e acolher como o mundo jamais pensaria em fazer naquele meu momento. Holden Caulfield foi, então, meu primeiro nick na web. E nunca parei de pensar sobre o sonho de ocupação que tinha o jovem do livro: evitar que crianças caíssem de um precipício...

Hoje tento ser uma partícula sólida num copo d´água, saudoso do 68 que não vivi. Saudoso e em silêncio. Reticente.
--
Com muita saudade de Adília.

Nenhum comentário: