28 de dez. de 2007

Retrospectiva Água de Tomate 2007

O cinema, microcosmo do mundo, perdeu Antonioni e Bergman e eu penei para construir com palavras uma imagem que sintetize esse ano. A retrospectiva, feita às pressas, ficou trôpega e reflete um pouco esse espírito.

As celebridades perecíveis se acabaram nas drogas e rehab não feita foi um hit. A moda perdeu grandes pessoas, no último suspiro Benazir Buttho foi assassinada e eu entreguei, aflito, um pedaço de mim aos céus.

Diverso, áspero. Como diria minha avó, 2007 foi um ano carepento. Mas teve seus encantos e serviu, ao menos, para traçar rumos para os dias vindouros.

O calor da Zâmbia dominou o clima, os vinhos – embora continue achando todos com gosto de uva podre – tiveram alta na minha vida e comi muito e bem. Ano estranho, definitivamente.

Um quarto de século
Não estou aceitando bem essa coisa da idade e do passar do tempo. À beira dos 25 anos, me bateu uma nostalgia opressora, um aperto. Os cabelos não param de cair, o peso de subir, as memórias de aumentar. Terapia!

Ao meu amado tio
Faltou a sua voz grave e clerical, seu acentuado sotaque italiano para engrossar o Pai Nosso rezado pela família neste Natal. As garrafas de vinho estavam na mesa, mas nenhuma delas com um bom “Sitião” produzido por você.

Faltaram as suas muitas histórias, de um homem que conseguiu transformar os horrores da guerra em ternas lembranças das brincadeiras com o irmão e os primos. Como disse meu irmão, “nem os raivosos ‘Tedeschi’ conseguiram abalar seu peito armado até os dentes de paz”!

E foi na Itália, palco dessas memórias, vendo seu abraço em sua mãe e a expressão de seu rosto, numa disfarçada despedida no jardim da casa – para que ela não sentisse aquilo como outra partida do filho –, que eu pude vislumbrar e entender o que são o amor e a saudade. Ela subiu as escadas para dormir e você voltou para a América.

Agora foi você quem subiu as escadas, dissimulando uma despedida, para encontrar com a Nonna, Luciano, a Vó, o Vo e todos mais que o aguardam com um bom gole de grappa.

Eu chorei e sofri, porque não sei como ajustar meus dias à ausência de sua mão grande espalmada em minha cabeça, ao som de “pensa, filhotón”, e ter quem me explique como funciona o Sudoku, como fazer licores, como amar com sinceridade. Mas me acalmei quando entendi que enquanto todos esperavam ao seu lado por um milagre, você foi o maior de todos. Um beijo, padrinho.

Saio de SP de avião, chego em Buenos Aires de ônibus
Fui muitas vezes ao Rio e estou quase embarcando novamente para o México, mas a viagem do ano certamente foi para a Argentina com os outros três Minhocões. A primeira viagem só com amigos, com momentos deliciosos e inesquecíveis, embora tenhamos visto “a notícia acontecer diante de nossos olhos” e pastado com o caos aéreo e a falta de teto no aeroporto de Buenos Aires.

"Give me the beat boys and free my soul..."
Os Minhocões seguem firmes e fortes trabalhando no mesmo lugar, saindo juntos, viajando e prometendo uma duradoura amizade. Os Quatro do Apocalipse Sorocabano se viram menos, mas todos os encontros foram ótimos. Mania de grupos com o mesmo número de pessoas! O saldo é um fardo tirado das costas, sinceridade, alguém novo com mais idade e menos juízo, abraços em grupo, redenções na festa da firma e uma pendência grave para se resolver.

À mesa
Segui, gentilmente convidado, o roteiro do Prêmio Paladar de gastronomia e comi nos melhores restaurantes de São Paulo. Sai para comer com os amigos no mínimo duas vezes por semana. Recebi os amigos em casa com comida. Jantei pizza com a minha mãe quase todos os sábados. Gastei todos os centavos do meu vale refeição almoçando diariamente. Apresentei novos sabores a alguém que só conhecia arroz e batata-frita. E fechei com chave de ouro essa sanha gulosa com um churrasco na sacada de minha casa, com amigos queridos, patrocínio do grill adquirido via Shoptime e seis quilos a mais.

“E a gente se olha e não sabe se vai ou se fica...”Em julho recebi uma gentil proposta de emprego, para trabalhar com Natasha, mas depois de muita angústia, negociações e espera, continuei no iG. As bancadas não são mais laranja, a maquiagem é profissional, mas continuamos sendo o portal do “pepino na home”. Os astros previram um ano estranho nesse segmento, e assim foi. Entro em 2008 mais sensato, mais contido, com mais canais, planos e idéias. Um curso e algumas palavras trocadas com Matinas Suzuki deram o empurrão necessário para pisar janeiro com disposição. E segue Majara ao meu lado! Nada como roçar os braços e ter alguém para me aturar e me atormentar loucamente assim tão perto. E Fe Fontes atrás, Lemp na sala ao lado. Sem falar de Thais na frente, Carocha na ponta da bancada, Paula logo ali, Adilia e os especiais...Pessoas contam na hora da tomada de decisões.

Pqno
Meu coração foi se enfiar numa dessas coisas que a cabeça não consegue conter. Como têm brigado esses dois, cabeça e coração! Um diz “vai, se atira, seja o que Deus quiser”, o outro está sempre arquitetando, procurando razões para cessar, lembrando das vezes que o conjunto se estilhaçou. É um sorriso bobo que desfaz o impasse e me faz seguir de mãos dadas.

Palavra: angústia

Música: “Elderly woman behind the count in a small town”, Pearl Jam

Livro: “O Amor Líquido”, Zygmunt Bauman

Show: Paralamas (“...em cima dessas rodas também bate um coração”) e Police, no Maracanã.

Restaurante: Casa do Espeto! Quer contar algo, fofocar, desabafar? Casa do Espeto! E o D.O.M. (pode parecer esnobe, mas a comida é sensacional e jantar lá ao lado de Hervé This é marcante).

Viagem: Argentina com os Minhocões.

Filme: Pequena Miss Sunshine

Um lugar: o boteco onde comi empanadas e tomei o tenebroso “Cielito Lindo” na Argentina.

(Re)Descobri: a estampa xadrez.

Uma loja: onde a mãe trabalha, sempre com uma história nova e personagens incríveis.

Uma frase: “A vida te pega na esquina”, certamente.

O que mais valeu a pena: enfrentar um pouco dos meus medos, ser pleno e verdadeiro com os amigos de verdade.

Um momento: ficar ilhado no aeroporto, as jantinhas com meu pai, os jantares com Horta, algumas tardes na Brigadeiro, os finais de semana na casa de minha mãe, a noite "Marie Antoinette" em casa, com macarons, champagne, Ligia Helena e Helena, o aniversário do meu tio...tantos e tantos...

Planos para 2008: manter a casa mais organizada, pagar as contas em dia, gastar menos, perder 6 quilos e parar de comer unha!

O ano acaba assim: ávido para bater os pés no tapete, respirar fundo e começar o próximo com todo o fôlego do mundo. Quase embarcando para uma viagem com a mãe, como há tempos não fazemos, para encontrar o irmão e a cunhada.

Como não poderia deixar de ser, a frase de Chaparro, o primeiro patrão: “que 2008 lhes sorria”!

PS: leio a dos anos anteriores, tão melhores, e começo a pensar que estou perdendo a criatividade e a capacidade de escrever. Fica em 2007, crise!

7 comentários:

Luiz Horta disse...

The pleasure of your companion foi que fez os jantares. Como diz aquele moço de branco na foto aqui da mesa: "Il cielo non appartiene alla geografia dello spazio, ma alla geografia del cuore". Este mapa do meu ano aparecendo na sua retrospectiva entra na minha nova geografia.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

beira mar ligada ao dial up, curtindo o último dia do ano, peúltimo dia de folga, que eu li essa retrospectiva que me deixa mais nostálgica, não melancólica porém...

certa de que nesse ano angustiado, estranho, mas intenso, eu ganhei um companheiro mais que de faculdade, minhocão ou de bancada,mas PARA A VIDA.

termino o ano com o saldo positivo em amizades especiais e rezando qualquer dos pai-nosso (católico ou protestante) para um ano com mais de Lucasof... tudo ao som de Lenine... pq ele combina com São Paulo, com praia e com a nossa vida....

Feliz Ano Novo!!! Boa Viagem... já com saudades... e confesso.. um quê de desespero... rs

Anônimo disse...

Por mais que eu quisesse, acho que não consiguiria reproduzir um comentário a altura do que você disse para mim ai. Então deixo para depois, quando estivermos sós, com minha boca no pé do seu ouvido e minha mão te fazendo cafuné.

O que te deixo por hoje é: saudades, Lucasof, muitas saudades. Que seu par de olhos volte logo =)

Um beijo, você sabe bem quem :D

Luiz Horta disse...

O cinema perdeu Robert Altmann também! Só agora me lembrei!

Anônimo disse...

Coube-me, nominalmente, a palavra irmão, na segunda menção à viagem ao México. Palavra doce em se tratando de vc, meu compaheirão de vida, de lembranças, planos e saudades. Se não tive nome, apareci em livros, no Matinas, no Pearl Jam, nas angústias, nas solidões e, para soar repetido o que mais marca o ano, nas saudades!
Obrigado pela visita!
Te amo irmão, Du
PS: O benefício da dúvida sempre é bom, mas duvidar que vc escreve bem... faça-me um favor!

Fe Fontes disse...

2008 chegou, Lu.
aceleraaaaado.
2007 servi para ter paciência.