O silêncio é sempre sintomático. Pode ser de constrangimento, alegria não compartilhada, reflexão, luto, repouso, apatia, um infinito de sensações e qualidades. Em mim, agora, é uma mistura de tudo. Gasto grande parte do meu tempo e queimo sinapses vasculhando um universo impalpável e ponderando o que seria mentira, o que seria verdade, o que seria insegurança, em minha vida e na de terceiros. O quanto já não foi tramado esses dias. Aguar na bateia o que é amor, deslumbre, novidade, medo, família, fome, cansaço, memórias, lembranças, saudade... Um acúmulo de pedras brutas.
Impossível conter a explosão. O pavio ardeu durante meses, correndo a terra, desbravando novos espaços, iluminando o redor, correndo, correndo. Chegou até a enorme carga, diminuiu a velocidade, entrou, incendiou, liberou energia sob diversas formas. Impossível conter os estilhaços.
Efervescência nervosa, riso adstringente.
O que tenho a perder, agora, é de vista.
Quebra-cabeça. Somos um mar de pedrinhas emboladas, com potencial para virar uma grande, única e coesa imagem de algo bonito. Mas isso requer trabalho, empenho e dedicação.
Quero uma boa temporada, novas bases comparativas.
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“... Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.”
“É necessário agora que eu diga que espécie de homem sou. Meu nome, não importa, nem qualquer outro pormenor exterior meu próprio. Devo falar de meu caráter. A constituição inteira de meu espírito é de hesitação e de dúvida. Nada é ou pode ser positivo para mim; todas as coisas oscilam em torno de mim, e, com elas, uma incerteza para comigo mesmo. Tudo para mim é incoerência e mudança. Tudo é mistério e tudo está cheio de significado. Todas as coisas são ‘desconhecidas’, simbólicas do desconhecido. Em conseqüência, o horror, o mistério, o medo por demais inteligente.”
FP
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